Avançar para o conteúdo principal

A polémica avaliação dos professores

A avaliação dos professores proposta, ou melhor imposta, pelo Executivo de José Sócrates tem provocado um aumento da insatisfação por parte da classe docente. Antes de mais, importa sublinhar a importância de um modelo de avaliação dos professores, e parece evidente que sobre a questão da avaliação, os próprios professores não se opõem. Mas também importa discernir sobre que modelo de avaliação é mais profícuo, e este, proposto pelo Governo, em muitos aspectos, não o é.
Por um lado, não se percebe a proficuidade de uma avaliação que contemple as notas dos alunos, ou dito de outro modo, uma avaliação consoante as notas dos alunos. Parece evidente que muitas incongruências e injustiças vão surgir desde tipo de avaliação. E mais, não haverá o risco de estar a criar as condições necessárias para que os professores, em benefício próprio, atribuam notas desfasadas da realidade?
Por outro lado, onde está a sensatez de se pretender aplicar um modelo desta natureza a meio do ano lectivo? E será que a assiduidade e a formação do professor vão ser verdadeiros critérios contemplados por este modelo de avaliação?
Em todo o caso, o Governo tenta fazer passar a imagem de lutar contra uma classe docente irresponsável e que rejeita qualquer modelo de avaliação. Ora, a retórica adoptada pela ministra da Educação e pelo primeiro-ministro tem uma multiplicidade de efeitos contraproducentes, dos quais destaco dois: em primeiro lugar, surgem sempre as divisões pouco saudáveis no seio da sociedade portuguesa – divisões promovidas, desde cedo, por este Governo – uns defendem que os professores são indolentes, que tem uma vida facilitada, e que procuram fugir a qualquer avaliação; em segundo lugar, há um efeito negativo para a educação, que surge da constante antagonização dos professores – engana-se a ministra se pensa que pode melhorar a educação indo incessantemente contra os professores. Em bom rigor, parece duvidoso que a ministra tenha como intenção melhorar a qualidade do ensino – o estatuto do aluno é sintomático das intenções do Governo em matéria de educação.
Importa ter presente que a educação é uma questão que deve dizer respeito a todos os cidadãos, não esquecendo que muito do nosso atraso estrutural se justifica com os inenarráveis falhanços na área da educação. E este Governo mais não tem feito do que agravar esses falhanços, sobretudo quando antagoniza sistematicamente os professores e despreza a qualidade de ensino e o rigor. Uma factura que será paga nas próximas décadas. As mudanças são, amiúde, necessárias, mas é preciso ter conta e medida do que se está a fazer; não é seguramente com as políticas acéfalas empreendidas pelo actual Executivo que o país caminha no sentido da modernidade.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...