Avançar para o conteúdo principal

Ginásios e IVA

Surgem várias notícias que veiculam o alegado não cumprimento, por parte dos ginásios, da redução do IVA. Já aqui se defendeu a tese de que esta redução do IVA não seria uma prioridade, quando se verifica que muitos portugueses têm outras necessidades mais prementes. E num contexto de incessável crise, é anedótico que o Governo encare os ginásios como sendo uma prioridade. De qualquer modo, o cumprimento do que foi estipulado não tem sido a política de muitos ginásios, e não obstante o ridículo da medida – quando enquadrada na difícil situação que assola o país –, a gula de muitos empresários é absolutamente inaceitável.
Aparentemente, os ginásios recorrerem a todo o tipo de subterfúgios para não cumprirem lei, com vista a aumentar a sua margem de lucro. O secretário de Estado do Desporto fala em “cartelização”. Ora, a fuga ao cumprimento do que está estipulado é sintomático da existência um tecido empresarial que não respeita ninguém, e, se for necessário, em nome do lucro, não se respeita a si próprio.
Quando nos questionamos sobre o atraso estrutural do país, não se pode ignorar este tipo de empresários, que pululam pelo país inteiro, independentemente do sector de actividade, e cuja responsabilidade pelo atraso do país é inquestionável. São os mesmos empresários que recorrem à precariedade laboral como instrumento para, obtusamente, rentabilizarem os seus negócios, são os mesmos que não têm visão estratégica e fazem planos apenas a curto prazo. Paralelamente, a inépcia aliada ao "chico-espertismo" mais saloio caracterizam algum tecido empresarial que chafurda na mediocridade e na inviabilidade a longo prazo. Muitos ginásios parecem inserir-se perfeitamente na anterior descrição.
Quando o Governo toma uma decisão em nome dos interesses dos cidadãos e quem tem a incumbência de cumprir, não cumpre, está a lesar todos os cidadãos. No caso concreto, não são só os clientes dos ginásios não cumpridores que são afectados pela avidez sórdida de alguns empresários, é o erário público, ou seja, todos os portugueses, que são afectados. O Estado teve de reduzir a sua receita para beneficiar alguns cidadãos, e por conseguinte, a aldrabice levada a cabo pelos ginásios está a prejudicar o próprio país.
É vergonhoso que se verifique este tipo de comportamento, e que se constate que só através da intervenção mais rígida do Estado – através de inspecções – é que os ginásios prevaricadores, poderão finalmente cumprir com aquilo que foi decidido pelo Governo. Em suma, o comportamento pouco digno de quem presta qualquer serviço aos cidadãos mancha a imagem de todo um sector. Recorde-se que o desporto ao ar livre e longe de embustes tem iniludíveis benefícios para a saúde e para a carteira.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...