Avançar para o conteúdo principal

Prioridades invertidas

O Governo decidiu baixar o IVA dos ginásios, apesar da medida parecer de pequena monta, a verdade é que essa redução de impostos tem um impacto significativo para os cofres do Estado. E mais: é o significado de uma medida desta natureza que incomoda por se verificar uma total inversão de prioridades por parte do Governo.
É evidente que esta decisão é indissociável de uma filosofia de saúde, higiene e bem-estar que acabará por deixar de ser uma escolha dos cidadãos, haverá de ser imposta. Nada disto surpreende quando se assiste às corridas do primeiro-ministro, pena é que a corrida do primeiro-ministro para o desenvolvimento se faça a passo de caracol, e com cada vez mais frequência, em marcha-atrás.
Por outro lado, é exasperante verificar as dificuldades que assolam a vidas dos portugueses e a elevada carga fiscal que é praticada no nosso país, Nestas circunstâncias, é inadmissível que o Governo escolha como prioridade os ginásios e se esqueça de outros produtos e serviços que são uma prioridade irrefutável da vida dos cidadãos.
Dir-me-ão que o princípio desta escolha é positivo na medida em que pode incentivar a comportamentos saudáveis como o desporto. Mas honestamente é difícil aceitar opções desta natureza quando se verifica o vasto rol de dificuldades que faz parte da vida dos cidadãos, e claro está, quando se constata que este ano o poder de compra vai decrescer novamente. E não é essa baixa que vai determinar o ingresso num ginásio, até porque o impacto nas mensalidades será incipiente.
O contexto da medida é claro e vem acompanhar a ideia o homem perfeito – tão cara ao primeiro-ministro. O problema é que a baixa do IVA nos ginásios – para cinco por cento – é ridícula para quem tem dificuldades diárias.
Haverá certamente quem aplauda esta decisão do Governo, até porque haverá beneficiados, e estes geralmente são incapazes de ver mais do que os seus interesses imediatos, contudo, esta medida é sintomática do insensibilidade do Governo que prefere adoptar políticas inseridas num contexto do homem perfeito – imposto pelo Estado paternalista – enquanto esquece as dificuldades dos eleitores transformados em meros números até 2009, quando voltarão a ser olhados como eleitores.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...