Avançar para o conteúdo principal

O optimismo do Governo

O Governo, não obstante os sinais evidentes de uma crise financeira, mantém os elevados níveis de optimismo. Quanto à economia portuguesa, o ministro das finanças e o primeiro-ministro têm sublinhado os sucessos da redução do défice e do crescimento da economia portuguesa para o ano de 2008. Infelizmente, a conjuntura económica internacional vem pôr em causa o optimismo do Executivo.
Esta semana tem sido pródiga em acontecimentos que terão um impacto negativo nas previsões optimistas do Governo. A reserva federal americana antecipou, esta semana, o corte nas taxas de referência em 0,75 pontos, o que indicia a inevitabilidade dos EUA entrarem em recessão. Os sinais são de tal forma reveladores da inevitabilidade de uma recessão que o nervosismo e a desconfiança tomaram conta dos mercados. As notícias de quedas das bolsas são inquietantes.
Recorde-se que a crise da economia mundial tem origem no laxismo na concessão de crédito de alto risco, a já famigerada crise no mercado de subprime, e as consequentes perdas para o sistema financeiro – hoje a obtenção de crédito é mais difícil, o que traz novos problemas a um país sobre-endividado, como é o caso de Portugal. Além do mais, há o sentimento generalizado de que ainda não se conhece a verdadeira amplitude da crise do mercado subprime.
Parece inevitável falar-se de uma recessão na economia americana, o que tem consequências também para a Europa. Embora muitos economistas asseverem que as consequências de uma recessão americana são menos significativas para a Europa do que no passado, o que é parece consensual é que haverá consequências para as economias europeias, nem que seja devido aos problemas que recrudescem nos mercados financeiros.
Com este pano de fundo, o Governo continua a insistir numa mensagem de optimismo que nem sempre é moderado. Sendo certo que o pessimismo não é a melhor política, a verdade é que também importa informar os cidadãos e as empresas e prepará-las para o que está para vir, sem se cair num pessimismo infundado. Em bom rigor, torna-se difícil fazer a destrinça, com este Governo, entre o que é a realidade e o que é propaganda. Tendo em conta a seriedade do assunto em questão, o optimismo do Governo poderá ser consequência de uma percepção dos membros do Executivo de uma determinada realidade. Se essa percepção tem algum fundamento, só o futuro nos poderá dizer.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...