Avançar para o conteúdo principal

Descontentamento na Saúde

Estas últimas semanas têm sido marcadas pelo recrudescimento da insatisfação das populações relativamente às alterações na área da Saúde. Antes de mais, importa relembrar que esta área é de importância crucial para o bem-estar dos cidadãos, e como é evidente, um país cuja população não tem esse bem-estar não caminha no sentido do desenvolvimento. Uma sociedade doente não se coaduna com o progresso.
Por outro lado, o envelhecimento das populações e as inovações na medicina acompanhadas por um acentuado avanço tecnológico tem contribuído para um aumento no que diz respeito ao acesso a serviços médicos. São as sobejamente conhecidas as dificuldades de sustentabilidade desta sensível área, e foram vários os Governos que tentaram, em vão, inverter o descalabro das contas na área da Saúde. O aumento exponencial do custo dos cuidados de saúde exige uma resposta que permita a viabilidade do SNS.
O actual Executivo está a levar a cabo um conjunto de mudanças cuja pertinência tem vindo a ser posta em causa. Parece, contudo, que o problema não reside nas alterações em si, mas o facto de não existirem alternativas viáveis que substituam os equipamentos e infra-estruturas que desapareceram. De facto, as políticas do ministério da Saúde parecem ter como objectivo primordial a redução de custos, sendo que essa redução tem sido feita à custa do bem-estar dos cidadãos. Não faz parte do objectivo deste texto dissertar sobre a proficuidade das medidas do Governo, e não é isso que está em causa. O que interessa discutir é se os encerramentos de vários serviços – muitos de proximidade com as populações – têm sido acompanhados de alternativas viáveis. Com efeito, parece que nada disso tem acontecido.
O ministro da tutela, em entrevista ao Expresso, afirma que a comunicação social tem responsabilidades no empolamento dos casos mais mediáticos, e refere também o aproveitamento político dos casos sensíveis do falecimento de duas crianças. O ministro está convencido que o descontentamento se restringe a algumas zonas do país e é empolado pela comunicação social. O país, na opinião do ministro, não sente profusamente um descontentamento em relação ao SNS.
O ministro da Saúde parece ter dificuldades de comunicação e mais do que isso, é incapaz de ver a realidade do país. Mas, será que as dificuldades de comunicação do ministro não estarão intimamente relacionadas com a dificuldade de justificar o inaceitável? Começa a ser manifestamente difícil ao primeiro-ministro manter este ministro em funções. A remodelação, que já deveria ter sido encetada, parece ser cada vez mais uma inevitabilidade.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...