Avançar para o conteúdo principal

Novas oportunidades, velhos hábitos

O problema que é invariavelmente apontado como sendo responsável pela baixa produtividade e com a falta de apetência competitiva da economia portuguesa é a fraca qualificação dos recursos humanos. De facto, o nosso país caracteriza-se por debilidades na formação e qualificação dos recursos humanos. Os números da OCDE, que denunciam a fraca qualificação dos trabalhadores portugueses, envergonham o país – eternamente mal colocado nos rankings – e, com alguma naturalidade, embaraçam os governos, em particular aqueles governos que vivem da solidez da imagem construída artificialmente,
O actual Executivo afirma ter intenções de debelar o problema da qualificação dos portugueses e acrescenta aquele toque final das novas tecnologias. A cegueira ideológica de alguns responsáveis governativos não lhes permite perceber que, por um lado, estão a dar a machadada final na qualidade da Educação, e por outro, pretendem resolver a qualificação dos adultos com paliativos incipientes. O programa Novas Oportunidades é o novo paliativo, apresentado como sendo a salvação de um país atrasado em matéria de qualificação dos recursos humanos.
Na verdade, o problema existe e não se resolve com facilidade, até porque incentivar adultos a regressarem à escola não é tarefa fácil. Reconhecendo as dificuldades, e aceitando que não se trata de uma tarefa fácil, não se pode é sucumbir ao facilitismo. Não é aceitável, não obstante as dificuldades, que se dê primazia à quantidade em detrimento da qualidade. O programa Novas Oportunidades não faz mais do que transmitir a ideia errónea de que se consegue uma espécie de milagre em algumas semanas ou meses, quando na verdade se demora anos para se atingir um determinado patamar. Não é seguramente saltando etapas que se consegue melhorar os recursos humanos.
Dir-se-á que esta é, porventura, a única forma de se conseguir melhorar os recursos humanos. Talvez seja um pouco assim, mas a ideia que se transmite é um velho hábito português: temos o hábito de nos convencermos que existe sempre um atalho que nos vai facilitar a vida, e que por conseguinte, nem sempre é necessário percorrer um caminho mais árduo para se atingir uma determinada meta. É assim com as Novas Oportunidades.
É claro que interessa ao Governo apresentar resultados, e nada melhor do que a OCDE referir a recuperação em matéria de recursos humanos portugueses. Não esqueçamos é que os números escondem várias realidades.
Enfim, são Novas Oportunidades, mas velhos hábitos. O Governo sabe muito bem disso. Todavia, o que interessa nem é tanto uma melhoria da qualidade dos recursos humanos, mas sim estatísticas que sirvam a imagem de eficácia, determinação e impetuosidade do Governo. Quando na realidade, e se olharmos com alguma atenção para o actual Executivo, não vemos mais do que propaganda, ilusões, retrocessos, etc.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...