Avançar para o conteúdo principal

Kosovo e a inevitabilidade da independência

Findo o prazo estipulado pelas Nações Unidas para se chegar a um acordo em relação à intrincada questão do Kosovo, é expectável agora que a União Europeia chegue a um consenso e que a província sérvia do Kosovo declare a sua independência. Os próximos tempos serão indubitavelmente conturbados, o impasse que se vive na região e a incerteza acerca do futuro são factores que estão na ordem do dia.
Durante esta semana foi anunciado que a União Europeia, após uma reunião de ministros dos negócios estrangeiros, teria chegado a um consenso no sentido de apoiar as intenções do Kosovo em proclamar a sua independência. Ora, em primeiro lugar, nem todos os Estados-Membros da UE estão em sintonia quanto a esta questão – o governo do Chipre já se mostrou indisponível para apoiar qualquer proclamação unilateral de independência por parte do Kosovo, e países como a Espanha manifestam acentuadas reticências sobre as intenções do Kosovo; em segundo lugar, a Sérvia apoiada pela Rússia, rejeita veementemente a independência da sua, ainda, província.
A independência do Kosovo coloca várias questões: a Rússia, em defesa dos povos eslavos, já avisou que não vai aceitar uma declaração de independência, o problema da Chechénia terá seguramente o seu peso na decisão russa; vários Estados europeus vêem na independência unilateral do Kosovo a abertura de um precedente grave, tendo em conta que o separatismo ganha novos argumentos; o Kosovo mantém que, mais mês, menos mês, vai proclamar a sua independência; a Sérvia que rejeita liminarmente essa independência, tem a intenção de recorrer ao Tribunal Penal Internacional.
O Kosovo, recorde-se, é uma província sérvia constituída maioritariamente por albaneses (90%) e por uma minoria sérvia. Uma das indefinições que acompanha a possibilidade de uma independência prende-se precisamente com a minoria sérvia. Note-se que as feridas dos conflitos dos Balcãs estão longe de estarem saradas, e esta região, não obstante os esforços da comunidade internacional para garantir a paz, continua a ser instável.
Com este pano de fundo, apenas parece haver uma certeza: o Kosovo vai acabar por declarar a sua independência, com o apoio inequívoco dos Estados Unidos, e com o possível apoio da União Europeia. Resta saber qual vai ser a reacção da Sérvia que perde soberania sobre uma parte do seu território, e de que forma é que a Rússia vai encarar essa independência. Até lá, espera-se que novos capítulos surjam, nesta já conhecida história de instabilidade na região dos Balcãs. De qualquer modo, a independência do Kosovo parece ser um processo irreversível.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa