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Cimeira UE-África: conclusões

Chegou ao fim a mediática e polémica cimeira UE-África. A cimeira, segundo a presidência portuguesa da União Europeia, foi um sucesso. Discutiu-se com particular ênfase a questão dos direitos humanos, não existiram assuntos considerados tabu, e o polémico presidente do Zimbabué acabou por ser considerado por muitos participantes como persona non grata. Além disso, e concretamente, a presidência portuguesa da UE congratulou-se com o facto de se ter discutido a intrincada questão e do Zimbabué.
Não obstante o sentimento de optimismo que caracterizou a cimeira e as declarações de regozijo da presidência portuguesa, ainda é cedo para se poder retirar ilações consistentes sobre o resultado da cimeira. De qualquer modo, existe um aspecto indesmentivelmente positivo que resultou desta cimeira: a visibilidade que foi dada a assuntos que, por vezes, acabam por se misturar com as restantes adversidades que assolam o mundo, e que por isso mesmo, passam despercebidas.
Com efeito, o facto de se ter reunido os chefes de Estado e de governo de um continente inteiro com a União Europeia, tem como consequência imediata um aumento da visibilidade dada a assuntos como o Darfur, o sul do Sudão ou o constante desrespeito dos direitos humanos no Zimbabué. Ainda assim, lamenta-se que outras atrocidades que são cometidas em África, designadamente no Congo e na Somália, tenham, aparentemente sido ignoradas.
A cimeira foi também alvo de muitas críticas, a presença de Mugabe e de outros tiranos em solo europeu foi difícil de aceitar. E não esqueçamos que Mugabe não foi o único tirano a ter presença em Lisboa, apenas foi o mais mediático resultado da postura adoptada pelo Reino Unido.
É claro que a principal razão que justificou tanta presença funesta em Lisboa não foi o desrespeito pelos direitos humanos, nem a boa governação, nem tão-pouco as questões ecológicas – estas são algumas razões que fundamentaram a cimeira, mas estão longe de terem sido as principais. A razão central desta cimeira terá sido a presença cada vez mais forte da China no continente africano, e a consequente perda de espaço de influência e de negócios por parte da União Europeia. Hoje é a China a conquistar esse espaço, a Índia está a tentar acompanhar, e o que é que vai sobrar para a Europa? São estas interrogações e dúvidas que justificaram a presença de tantos facínoras em solo europeu.
O continente africano precisa de encontrar um caminho sólido e fiável para o desenvolvimento – longe da corrupção, do desrespeito pelos direitos humanos, longe da má governação, longe das ditaduras, longe do desprezo ignóbil que as elites sentem relativamente ao seu povo. Mas esse caminho só pode ser trilhado pelos próprios africanos. O que a Europa pode e deve fazer é cimentar relações com os países africanos e eliminar quaisquer obstáculos ao desenvolvimento desses países, não muito mais do que isso.

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