A polémica em torno do Banco Comercial Português – agora com a polémica sobre a lista para o conselho de administração do banco – tem o condão de mostrar como uma questão do maior banco privado português se tem politizado nas últimas semanas. E mais: volta-se a falar com acentuada insistência no famigerado bloco central de interesses.
Há que assinalar que o bloco central não é propriamente um mito político, com a particularidade de que hoje já nem se tenta escamoteá-lo. O comportamento dos dois principais partidos políticos é sintomático de uma forma de fazer política que ignora os interesses do país. Em traços gerais, faz-se política como um meio de se chegar uma posição e dessa forma integrar aqueles que, por razões de amizade ou por uma questão de reciprocidade, fazem parte de um grupo exclusivo.
Não admira, pois, que o descrédito em relação à classe política, designadamente, no que diz respeito aos principais partidos políticos se generalize. Ninguém pode honestamente argumentar que a classe política está repleta de exemplos a seguir. A ideia, hoje ingénua e desprestigiante, de se almejar servir o interesse público desvaneceu-se e foi substituída pelos interesses particulares ou partidários.
A presença de alguns nomes que compõem a lista para o BCP denota que a idoneidade é palavra fora de moda. E por outro lado, a reacção do PSD à existência desses nomes não passa de uma espécie de birra porque o BCP vai deixar o vermelho convencional para o rosa, e não para o laranja como a actual liderança do PSD gostaria. E relembre-se que se trata de um banco privado, o maior banco privado português. Mas é precisamente por ser o banco que é que desperta apetites políticos nos dois principais partidos políticos.
Em tais circunstâncias, não é de espantar que a reacção de muitos não seja mais do que um burburinho inconsequente. Afinal, ainda estamos a falar do país em que o Estado é o centro da vida para muitos portugueses. Não convém importunar o todo-poderoso Estado que hoje é de uma cor e amanhã poderá ser de outra.
Este é o Portugal de hoje - não muito diferente do de ontem -, em que os discursos são sempre condicionados por questões de interesses mais ou menos evidentes. Um país em que a política ainda se imiscui em assuntos que manifestamente não são da sua competência, mesmo que o faça de forma sub-reptícia. Um país em que os dois principais partidos se movem descaradamente por interesses político-partidários. Um país que se vê entalado entre dois partidos, esses sim, sem qualquer interesse.
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