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2007, ano de resultados?

A resposta à pergunta colocada no título é positiva para o Governo, aliás, o próprio primeiro-ministro apelidou o ano que agora finda como sendo o ano dos resultados. A generalidade de nós se interrogará – mas de que tipo de resultados é que o primeiro-ministro estará a falar? É claro que o primeiro-ministro procurou fugir ao enorme rol de insucessos que caracterizou a acção do Governo durante este ano; porém, é indecoroso ouvir o primeiro-ministro falar de resultados sociais.
O país, todos sabemos, e muitos sentimos, tem vindo a caminhar em sentido oposto ao desenvolvimento. O retrocesso é a palavra de ordem na vida da generalidade dos cidadãos. Consequentemente, é quase caricato falar-se em resultados, designadamente em resultados sociais. Ora, recapitulemos: o desemprego não é um bom resultado para o Governo, cuja política fomenta o aumento desse flagelo social; a precariedade do emprego alastra-se de forma endémica, o que não é resultado muito positivo para o Governo; a construção do novo aeroporto de Lisboa é uma trapalhada sem precedentes, até mesmo para este Governo; o aumento do custo de vida é um péssimo resultado; o estado da Saúde, as listas de espera, a inexistência de uma rede de cuidados paliativos, e o encerramento de vários serviços constitui outro péssimo resultado; a Justiça continua intrincada e morosa; e a Educação – outro sucesso, segundo o Governo – é seguramente o maior falhanço de todos os falhanços, a acção do Governo resume-se a medidas cujo objectivo é escamotear uma cinzenta realidade; e finalmente a Administração Pública continua à espera das prometidas reformas.
Mas então onde estão os tais resultados? Um resultado positivo será a redução do défice em conformidade com o que é exigido pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento. De facto, conseguiu-se reduzir o défice, e, em abono da verdade, não se pode subestimar a importância dessa redução. Todavia, este não será um sucesso completo, afinal, essa redução foi feita à custa do aumento de receitas e não tanto consequência de uma redução da despesa. Ou dito de outra forma, foram os portugueses que, à custa de muitos sacrifícios, foram determinantes para esse resultado; e mais grave – continua a enveredar-se pelo caminho mais fácil, ou seja, mexe-se no bolso dos cidadãos, e deixa-se a gordura do Estado crescer.
Outro resultado positivo para o Executivo de José Sócrates terá sido a presidência da União Europeia. Porém, esse sucesso, não obstante merecer alguma exultação, não apaga a multiplicidade de insucessos do Governo. E se o primeiro-ministro terá ainda dúvidas, recomenda-se que pergunte a um desempregado, ou a um jovem em condições de precariedade laboral, ou a uma família que tem dificuldades – resultado do retrocesso no bem-estar social –, ou a um dos muitos “novos” pobres que, apesar de estarem empregados, têm dificuldades gritantes, se estes cidadãos vislumbram os tais resultados. A tolerância à propaganda também tem os seus limites.

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