Avançar para o conteúdo principal

O regresso ao passado

Hoje, no parlamento, o actual primeiro-ministro, José Sócrates, confrontou-se com o ex-primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes. O duelo correu como seria de esperar, de um lado o actual primeiro-ministro defendeu veementemente a proposta do Governo para o orçamento de Estado de 2008; e do outro lado, o ex-primeiro-ministro e agora líder da bancada parlamentar do PSD tudo fez para ensombrar aquilo que considera ser um mau orçamento para o país. A discussão foi previsível e vazia de ideias, o que não será propriamente uma novidade no parlamento.
Este reencontro entre José Sócrates e Pedro Santana Lopes até nos fez lembrar um programa de televisão em que ambos eram os protagonistas. A diferença, no entanto, é evidente: desta vez não se trata de um programa de televisão, mas sim da vida dos portugueses que é afectada em larga medida por decisões e influências destes dois protagonistas.
O duelo não terá gorado as expectativas criadas, designadamente pela comunicação social. Aliás, esta dupla no parlamento não entusiasmará sobremaneira os portugueses, mas é a comunicação social que anda empolgada com este e os duelos vindouros no parlamento.
A nova liderança do grupo parlamentar do PSD é, quanto a mim, uma escolha que produzirá resultados negativos para o partido, e que, em última instância, poderá fragilizar o PSD. Recorde-se que Pedro Santana Lopes foi primeiro-ministro – num contexto temporal muito próximo – e que terá sempre alguma responsabilidade no estado do país. Relembre-se também a forma pouco feliz como o ex-primeiro-ministro teve de abandonar o cargo. Parece manifestamente que esta foi uma escolha que poderá ser contraproducente.
No debate propriamente dito saliente-se a evocação constante do passado, em particular do passado de Pedro Santana Lopes. A verdade, no entanto, é que apesar do passado passível de ser criticado, não vivemos num presente muito melhor, sendo que quanto ao futuro permanecem muitas reservas. E é precisamente esta realidade que o primeiro-ministro tentou escamotear. De facto, o constante regresso ao passado de Pedro Santana Lopes condicionou as suas intervenções, o que acaba por representar um trunfo para José Sócrates – trunfo esse que já foi habilmente utilizado neste debate e que no futuro o actual chefe do Executivo não se vai coibir de utilizar.
E quanto aos estilos, o do actual primeiro-ministro é sobejamente conhecido, e o do agora líder do grupo parlamentar do PSD é semelhante em substância, mas difere num aspecto particular – consegue ser menos irascível. De qualquer modo, não se antevêm benefícios para o país resultado destes confrontos no parlamento. E mais: muitos portugueses vão acabar por encarar os debates no parlamento da mesma forma como vão encarar as eleições de 2009 – tudo se resume à escolha entre o “mau” e o “péssimo”, resta apenas saber quem é quem.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...