Avançar para o conteúdo principal

A necessidade dos cortes na despesa

Quando se discute, pelo menos neste blogue, a pertinência ou falta dela nos cortes que o Governo tem levado a cabo, com o objectivo de reduzir a despesa, não se procura apenas contrariar displicentemente esses mesmos cortes. O que existe é uma diferença assinalável entre a necessidade de redução da despesa e sua proficuidade.
Nem tão-pouco se pretende, mais uma vez neste blogue, fazer as vezes da oposição, ou pelo menos de alguns partidos da oposição, que clamam a necessidade de se reduzir a despesa, para depois, de forma paradoxal, denunciar toda e qualquer tentativa nesse sentido.
É possível conciliar a defesa da redução da despesa – uma necessidade indubitável até para a própria viabilidade do Estado e rejeitar algumas políticas que incidem sobre cortes cegos e prejudicam sobremaneira a vida dos cidadãos. Na área da saúde, por exemplo, aceita-se e reconhece-se a dificuldade de gestão de um ministério tão intrincado, mas isso não quer dizer que todas as políticas do Governo para a saúde sejam pertinentes. Pelo contrário, o Sistema Nacional de Saúde continua a ser mal gerido e a prestar um péssimo serviço às populações – é notório o incremento dessas dificuldades. Infelizmente, quem está à frente desta pasta nem sempre tem a sensibilidade que lhe é exigida. Não é possível encerrar unidades de saúde, em nome da parcimónia orçamental e, simultaneamente, ignorar as dificuldades que esses encerramentos significam para a vida dos cidadãos.
E se por um lado, se exige que a redução da despesa se faça, em larga medida, pelo lado da Administração Pública, não se aceita que essa redução seja feita à custa de trabalhadores precários, em situação de evidente fragilidade. Ainda para mais quando se verifica a utilidade desses mesmo trabalhadores. Num país que simplesmente não respeita quem vive na precariedade, nem tão-pouco se preocupa com essa situação, não pode ser o Estado a dar o mau exemplo. Exige-se um maior respeito por estes cidadãos que prestam serviços ao país, mas que vivem presos numa vida de crescentes incertezas. A premissa que o trabalho para a vida acabou não pode significar a implementação da precariedade como base das relações laborais. E o Estado, neste particular, não pode ser mais um malfeitor no meio de tantos outros.
Em suma, quando se pugna por uma redução da despesa, no sentido de se atingir a consolidação das contas públicas e do fortalecimento da economia do país, não significa que se tenha de aceitar de ânimo leve todas as políticas deste ou de qualquer outro Governo. Deve prevalecer o bom senso e a procura de um equilibrio entre a eficiência económica e a equidade social.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...