Avançar para o conteúdo principal

Ministério da Saúde e Tribunal de Contas

O relatório divulgado pelo Tribunal de Contas sobre a forma pouco clara como o ministério da Saúde trata os dados relativos aos hospitais é demolidor. Em síntese o que o Tribunal de Contas (TC) vem dizer sobre as contas do ministério da Saúde é que foi utilizado um método que permitiu escamotear o défice do sector e que em 2005 e 2006 o endividamento dos hospitais sofreu um acentuado incremento. Além disso, o TC indica que nos hospitais-empresa as dívidas aos fornecedores ascenderam a valores perto dos 50 por cento. Ou dito de outra forma, aquilo que o Governo anda a vender aos portugueses não corresponde ao que o TC analisou.
O ministro da Saúde já veio dizer não saber com o pormenor o relatório do TC, mas mostrou-se disponível para responder no Parlamento sobre o mesmo.
Ora, a análise do TC sobre as contas da saúde para além de mostrar inúmeras e preocupantes incongruências, mostra igualmente o insucesso do Governo no controle da despesa deste sector. Na verdade foram suprimidos serviços, encerram-se maternidades, urgências de hospital e outros serviços de atendimento ao público; a saúde é o calcanhar de Aquiles de um país que seria de esperar ser de primeiro mundo; a qualidade dos serviços prestados, não obstante o esforço meritório de quem trabalha no Sistema Nacional de Saúde, estão longe do aceitável, e, ainda assim, a despesa não cessa de aumentar.
Estas conclusões merecem uma explicação séria do ministro que tanto apregoa encerramentos, muito em nome do aumento da eficácia dos serviços, mas também devido à parcimónia orçamental que faz parte da política do actual Executivo. Não se pode é pedir sacrifícios aos portugueses e simultaneamente apresentar resultados insatisfatórios. Já aqui se escreveu que o ministério da Saúde tem uma tarefa árdua no sentido de satisfazer as necessidades dos cidadãos. Todavia, o que se verifica é que as listas de espera para determinados serviços são terceiro-mundistas – o caso da oftalmologia é gritante – e as populações vivem notórias dificuldades no acesso aos serviços de saúde.
Já se percebeu, com a acção do Governo, que a questão social é relegada para um segundo plano, e que, quando se fala do social, é meramente para vociferar meia dúzia de subsídios incipientes. Apesar de toda a contenção orçamental, a área da Saúde merece mais do que tem tido porque o que está em causa é o bem-estar dos cidadãos e, em muitos casos, a própria dignidade de quem vive em Portugal. Estabeleçam-se então prioridades, sublinhem-se metas a atingir, não se deixe é o Sistema Nacional de Saúde cair em desgraça, porque dele dependem muitos cidadãos deste país.
A cultura da desresponsabilização faz escola em Portugal, e aqueles que estiveram nos sucessivos governos destes últimos trinta anos raramente viram a sua actuação ser convenientemente escrutinada. Por quanto tempo hão-de os cidadãos portugueses ter a indelével sensação de estarem a ser enganados? O relatório do TC sobre as contas apresentadas pela tutela sobre os anos de 2005 e 2006 vêm confirmar aquilo que todos já sabemos – que a verdade e a transparência andam ausentes da retórica do Governo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa