Quando se discute o excesso de futebol, ou a excessiva importância que é dada ao futebol surgem imediatamente duas reacções distintas. A primeira é daqueles que não gostam pura e simplesmente de futebol e criticam o peso excessivo que lhe é dado pelos portugueses; a segunda reacção, diametralmente oposta à primeira, é daqueles que olham para o futebol de forma apaixonada e rejeitam liminarmente as críticas que são feitas e que se prendem com o claro exacerbamento da importância deste desporto. É raro encontrarem que consiga quem consiga discutir este assunto de forma equilibrada.
Na passada quarta-feira a selecção nacional de futebol conseguiu o apuramento para o Europeu a realizar-se na Suiça e na Áustria. O dia seguinte foi preenchido com este assunto que atravessou quase toda a comunicação social – canais de televisão, jornais e rádios não se coibiram de explorar exaustivamente este assunto. Em contrapartida, parece ter sido mais a comunicação social a dar importância desmesurada ao assunto em questão, do que propriamente os portugueses, que não se mostraram particularmente entusiasmados com mais esta conquista da selecção. Talvez porque considerem que o apuramento da selecção era um dado adquirido, não obstante as dificuldades que a mesma teve na prossecução dos seus objectivos; ou, em última análise, muitos considerem que as fracas exibições da equipa não justificam um grande entusiasmo. Não deixa, contudo, de causar alguma inquietação que se verifique que a comunicação social foi o espelho de uma euforia desmesurada – mais uma vez.
Não se pretende com isto dizer que não deve haver espaço à discussão deste desporto em particular, o que se pretende inferir, depois de analisado o dia seguinte, é que quando existem temas que exigem uma discussão premente, o futebol não deve ocupar um espaço excessivo na comunicação social. É evidente que não se trata propriamente de uma novidade, e que já assistimos a um entusiasmo exuberante de muitos portugueses aquando do campeonato europeu realizado em Portugal e aquando do último mundial – preenchidos com episódios de uma acentuada manifestação de patriotismo alimentados por órgãos de comunicação social ávidos de episódios dessa natureza.
Além do mais, a comunicação social que tanto regozija com a selecção nacional merecia outro tratamento por parte do seleccionador nacional de futebol que não contém a sua irascibilidade de cada vez que lhe são colocadas questões difíceis. Haverá excessos de parte a parte, é certo, mas quem quer ser respeitado, tem forçosamente de respeitar aqueles que apenas procuram desempenhar as suas funções.
Enfim, o futebol é um negócio de milhões e este chavão, como aliás muitos outros, é uma verdade inatacável. A comunicação social anda a reboque do que é mediático. Infelizmente, parece que o futebol, e pouco mais do que o futebol, é o espelho de um país de sucesso, desde a selecção até à notoriedade de muitos jogadores de futebol, e talvez por essa razão tantas alegrias parece dar aos portugueses. Pena é que outros portugueses que se destacam em áreas tão distintas como a arquitectura, investigação médica, engenharia, literatura, artes plásticas entre outras, não tenham metade do reconhecimento que “as gentes” do futebol têm. Em todo o caso, fica-se invariavelmente com a indelével sensação que a tal euforia serve os interesses de governos que mais não fazem do que tergiversar e que vêem assim as atenções desviadas e centradas em trivialidades.
Declaração de interesses: a autora do texto, para além de ter sido praticante do desporto em questão, é adepta de futebol e acompanha com regularidade o seu clube de futebol e a selecção nacional, não caindo, naturalmente, em euforias desmesuradas.
Declaração de interesses: a autora do texto, para além de ter sido praticante do desporto em questão, é adepta de futebol e acompanha com regularidade o seu clube de futebol e a selecção nacional, não caindo, naturalmente, em euforias desmesuradas.
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