Avançar para o conteúdo principal

Estatuto do aluno: o recuo

Segundo a comunicação social, o grupo parlamentar do PS prepara-se para recuar na polémica proposta de lei sobre o novo estatuto do aluno. O PS afirma que não se trata de qualquer recuo visto que a proposta para o novo estatuto do aluno já previa a possibilidade de chumbo em caso de faltas excessivas e reprovação na prova subsequente. A oposição reitera que se trata, de facto, de um recuo e, no caso do CSD, propõe-se a demissão da ministra da Educação. Esta reviravolta transmite a sensação de que a ministra foi desautorizada – relembre-se a determinação da ministra na defesa deste novo estatuto do aluno.
O famigerado estatuto do aluno foi alvo de uma notável profusão de críticas, em particular no que diz respeito à questão das faltas e dos chumbos, oriundas de todo o espectro político. Neste contexto particularmente difícil para o Ministério da Educação, a ministra tentou explanar uma lógica patente no dito estatuto do aluno que fugiu à compreensão dos partidos da oposição, mas também foram muitas as críticas expressas em jornais e outros órgãos de comunicação social.
A ministra vê assim a sua posição fragilizada, depois de um recuo que pode ter várias designações, mas que na prática tem sempre o peso de um passo atrás. O PS já tentou dar explicações que vão no sentido de que a possibilidade de chumbo já tinha sido contemplada pelo novo estatuto do aluno, mas o que fica é a sensação de que este foi, na realidade, um recuo.
Espera-se, com efeito, que a escola não se transforme, como se tem transformado, num receptáculo de alunos – desprovida de qualidade e de capacidade de transmissão do conceito de responsabilidade. O Governo que tanto regozija com a modernização de escolas, seja através da distribuição de computadores, seja através de outros equipamentos, não pode continuar a enveredar pelo caminho do facilitismo e da desresponsabilização – não é essa a escola do futuro.
Por fim, muito se tem dito e escrito sobre educação, e contrariamente à visão míope da ministra – esta não é uma questão que diga apenas respeito aos principais actores educativos. Ora, não é por se estar fora da esfera educativa que se é forçado a evitar pensar sobre essa matéria. A permanente fragilização dos professores – cuja responsabilidade é quase exclusiva da actuação da ministra – e o afastamento da sociedade relativamente à educação são erros crassos que terão consequências devastadoras para o futuro da educação, e naturalmente, para o futuro do país.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa...

Direitos e referendo

CDS e Chega defendem a realização de um referendo para decidir a eutanásia, numa manobra táctica, estes partidos procuram, através da consulta directa, aquilo que, por constar nos programas de quase todos os partidos, acabará por ser uma realidade. O referendo a direitos, sobretudo quando existe uma maioria de partidos a defender uma determinada medida, só faz sentido se for olhada sob o prisma da táctica do desespero. Não admira pois que a própria Igreja, muito presa ao seu ideário medieval, seja ela própria apologista da ideia de um referendo. É que desta feita, e através de uma gestão eficaz do medo e da desinformação, pode ser que se chumbe aquilo que está na calha de vir a ser uma realidade. Para além das diferenças entre os vários partidos, a verdade é que parece existir terreno comum entre PS, BE, PSD (com dúvidas) PAN,IL e Joacine Katar Moreira sobre legislar sobre esta matéria. A ideia do referendo serve apenas a estratégia daqueles que, em minoria, apercebendo-se da su...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...