Com a vitória do Partido Democrático do Kosovo, e de um antigo guerrilheiro independentista, Hashim Thaci, a luta pela independência do Kosovo parece ganhar novo fôlego. Já foi anunciada a pretensão do novo primeiro-ministro, possivelmente em coligação com a Liga Democrática do Kosovo, de declarar a independência do Kosovo depois do anúncio da decisão da troika de mediadores (UE, EUA e Rússia) sobre o estatuto político da província.
Ora, as pretensões do recém-eleito primeiro-ministro e do seu povo são naturais, mas de difícil execução e aceitação, não só devido aos entraves impostos pela Sérvia e pela Rússia, mas também por parte de alguns países europeus que vêem nesta independência a possível abertura de uma caixa de pandora. A tese segundo a qual a independência do Kosovo abre pode abrir um precedente perigoso não é de todo descabida. Relembre-se que o Kosovo é uma província sérvia de maioria albanesa administrada pela ONU.
Colocam-se desde logo vários problemas: em primeiro lugar, a Sérvia, apoiada pela Rússia, rejeita liminarmente a independência do Kosovo; a província de maioria albanesa – apoiada pelos EUA – dificilmente aceitará outra situação que não seja a independência total. Muito do mais do que saber quem é que eventualmente terá razão nesta contenda, é perceber qual o impacto desta possibilidade para a região e, naturalmente, para a Europa.
A situação no Kosovo tal como está não é sustentável a médio e longo prazo; a província vive tempos conturbados e tem de fazer face a problemas de desemprego e de instabilidade. As pretensões do povo Kosovar de conseguir a independência são compreensíveis – 90 por cento do povo do Kosovo é de origem albanesa e as relações com a Sérvia foram aquilo que o mundo viu no passado. Por outro lado, uma total independência é um cenário inaceitável para uma Sérvia que rejeita mais humilhações e que vê o seu território ser reduzido significativamente.
A Europa corre sérios riscos de ver eclodir um novo foco de acentuada instabilidade nesta região se não se encontrar uma solução que possa ser aceitável para ambos os lados. Sendo certo que é impossível agradar ao povo do Kosovo e simultaneamente à Sérvia; é imperativo que se minimizem os possíveis danos decorrentes desta intrincada questão. De resto, o que está mais uma vez em causa é a estabilidade da Europa. De qualquer forma, a declaração unilateral de independência do Kosovo parece, desde já, uma irreversibilidade.
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