Hugo Chávez, presidente da Venezuela, fez uma visita relâmpago a Portugal e foi recebido pelo primeiro-ministro português. Esta curta visita de Chávez a Portugal segue-se a uma outra feita pelo presidente venezuelano a França, e naturalmente, segue-se à polémica cimeira Ibero-Americana. De resto, foi nesta cimeira que se deu o famigerado episódio protagonizado pelo rei espanhol e pelo presidente da Venezuela. Paralelamente, a comunicação deu amplo destaque à visita de Chávez a Portugal.
Em primeiro lugar importa referir os interesses óbvios que Portugal tem na Venezuela – são mais de meio milhão de portugueses e luso-descendentes a viverem nesse país, e os interesses em matéria de recursos energéticos que o país possui são inegáveis. Em segundo lugar, não se pode ignorar que o regime de Chávez está longe de ser o mais democrático, e não raras vezes Chávez, em nome da revolução bolivariana, ignora por completo os princípios mais basilares das democracias.
Ora, com este pano de fundo a questão que se impõe é a seguinte: fez o Governo bem em receber Chávez? Ainda que Chávez padeça de uma grave incontinência verbal e que não seja o líder mais democrático do mundo, a verdade é que não se trata de um ditador facínora como alguns que não parece terem grandes dificuldades em visitar a Europa. De um modo geral, o presidente venezuelano é uma personagem quase risível que, não obstante a sua revolução bolivariana não se coadunar com os mais básicos princípios democráticos, está longe de ser o ditador da estirpe de tantos outros que continuam a estar à frente dos destinos de vários países.
O que importa perceber é para onde vai a Venezuela de Chávez, e de que forma o regime do presidente venezuelano vai determinar a vida dos portugueses que vivem no país. Em bom rigor, há razões para preocupações, e parece-me que foram também essas mesmas preocupações que estiveram no cerne da conversa entre Chávez e o primeiro-ministro português. Em síntese, a comunidade portuguesa na Venezuela, só por si, justifica a presença de Chávez em Portugal.
É por demais evidente que a razão da visita não se circunscreveu apenas à questão da comunidade portuguesa – os interesses energéticos portugueses na região terão sido outro assunto discutido. Todavia, também aqui há razões amiúde inquietantes que se prendem com a crescente nacionalização da economia venezuelana.
Dir-se-á, porventura, que o regime de Chávez se reveste de uma amálgama de autoritarismo, cerceamento de liberdades, populismo desenfreado, etc. E é verdade. Além disso, não esqueçamos o estilo nada aprazível do líder venezuelano. Contudo, o encontro entre Chávez e o José Sócrates não deve ser levianamente criticado porque em cima da mesa estiveram questões importantes para o nosso país. Nem valerá a pena comparar esta visita de Chávez com a visita de Mugabe, no âmbito da Cimeira Europa-África. Refira-se que são questões distintas. Esta visita terá sido importante para que o Governo português perceba qual é o rumo da Venezuela e da comunidade portuguesa lá instalada para além do espectáculo itinerante que constitui o vasto rol de intervenções públicas de Chávez.
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