Os últimos acontecimentos que marcam a actualidade e que indiciam o ressurgimento de episódios de cerceamento de liberdades dificultam a vida de um Governo que privilegia as aparências em detrimento da substância. A mera possibilidade de ter existido uma nova tentativa de cerceamento de liberdades – liberdade de expressão e de manifestação – coloca o Executivo de José Sócrates numa posição de acentuado desconforto. O excesso de zelo das autoridades, primeiro em Montemor-o-Velho e depois na Covilhã, volta a manchar a imagem de um Governo que se dá mal com manifestações de descontentamento.
Estes novos casos trazem de volta o fantasma do autoritarismo. As reacções dos partidos da oposição não se fizeram esperar, e apesar de algum exagero em algumas reacções, a verdade é que todos os partidos são unânimes na condenação de mais este condicionamento das liberdades dos cidadãos. E mais: não foram apenas os partidos da oposição a criticar severamente estes casos, as reacções estenderam-se a membros do próprio PS.
Sublinhe-se que as manifestações que tanto desconforto causa ao Governo, e particularmente ao primeiro-ministro, são consequência directa do estado em que o país se encontra: aumento do desemprego, saneamento das contas públicas à custa do aumento da carga fiscal, e no caso específico dos funcionários públicos, os cortes em áreas como a saúde e educação. As reformas essenciais ao desenvolvimento do país estão longe da sua conclusão e as eleições legislativas aproximam-se, não se percebendo bem como é que o Governo vai contornar mais esta dificuldade. Para além disso, os portugueses começam a ter dificuldades em entender a razão de tantos sacrifícios quando o desenvolvimento do país é apenas uma miragem.
Por outro lado, o actual Executivo sempre se manifestou incapaz de dialogar com os cidadãos, e nunca se coibiu de mostrar alguma arrogância na execução de políticas menos populares. A factura será paga mais ou cedo ou mais tarde, parece que mais cedo.
Comentários