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A insustentável leveza do símbolo partidário

O símbolo partidário parece ter ganho acrescida notoriedade depois de um militante do PSD apresentar queixa, numa instância do partido, contra Pacheco Pereira depois deste ter invertido o símbolo do PSD no seu blogue. Este episódio é elucidativo da suposta rectidão dos novos arautos do partido, que tudo discutem menos aquilo que mais interessa aos portugueses: propostas alternativas às fantasias do Governo, ideias para o país, soluções para os problemas que assolam a vida de muitos cidadãos. Neste enorme vazio de ideias em que se tornou o PSD, parece que o que mais importa são as querelas internas e as acusações desprovidas de importância.

Pacheco Pereira decidiu colocar no seu blogue o símbolo do partido a que pertence ao contrário do que é costume, trata-se meramente de uma opção do autor do blogue e militante do partido. E qual é a relevância de inversão do símbolo? E se ao invés de estar ao contrário, estivesse de lado? Ou na diagonal? Qual deveria ser então a sanção a aplicar? Se a situação não fosse preocupante – pelo menos no sentido da vacuidade de uma iniciativa que corrobora a existência de um partido sem ideais –, até daria para nos rirmos.

De um modo geral, muitos acreditam que a nova liderança do partido será a chave para tudo se conquistar em 2009. Mas sublinhe-se que o XXX Congresso do PSD não foi propriamente o momento de consolidação da nova lideranças, e por outro lado exceptuando alguns militantes mais esperançosos, os indefectíveis apoiantes de Luís Filipe Menezes, e naturalmente, a comunicação social (que exulta com a dupla Menezes/Santana Lopes); mais ninguém estará entusiasmado com este novo PSD.

É certo que ainda é cedo para tecer grandes considerações sobre o futuro deste PSD e o indissociável sucesso do novo líder do partido, mas aquilo que salta imediatamente à vista é a substituição do debate político por tricas gratuitas e pela mesquinhez de alguns militantes ansiosos de idolatrarem a nova liderança. Ora, esta pequenez inerente a queixas desta natureza revelam que o PSD não é um partido em busca da famigerada unidade , porque se o fosse, o próprio líder do partido já tinha vindo desvalorizar a atitude mais zelosa do militante que apresentou queixa contra Pacheco Pereira.

É indubitável que a voz dissonante de Pacheco Pereira e de outras figuras do PSD incomodam a nova liderança e talvez ainda provoquem mais incómodo àqueles, que não estando habituados ao debate de ideias, preferem manter-se inelutavelmente ao lado do líder (hoje este, amanhã outro qualquer). Sublinhe-se que Pacheco Pereira, nas suas diversas intervenções, é precisamente uma das figuras do PSD que mais tem contribuído para a qualidade do debate político em Portugal. Uma raridade no seio do PSD.

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