Hoje foi notícia, com acentuado destaque nos meios de comunicação social, a proposta de fusão do BPI com o Millenium BCP. Esta proposta não apareceu neste momento fruto do acaso. Relembre-se a crise que tem fustigado o BCP. Depois de acérrimas lutas internas e após os alegados empréstimos ao filho de Jardim Gonçalves a um accionista. Consequentemente, o mau momento do BCP foi determinante para o surgimento desta proposta de fusão do BPI. Esta operação acaba por surgir depois de tentativas no passado mais recente de uma OPA sobre o BPI desencadeada precisamente pelo BCP.
De um modo geral, não se antevêem problemas significativos decorrentes desta hipotética fusão. A possibilidade de fusão destes dois bancos portugueses (havendo naturalmente accionistas estrangeiros, e no caso do BPI um dos grandes accionistas é espanhol, por exemplo), talvez seja uma boa oportunidade para o BCP ultrapassar uma crise que atingiu proporções um pouco alarmantes. Note-se que a questão de empréstimos declarados incobráveis, mas que entretanto foram pagos – ficando sem se perceber bem a lógica destas operações – afectaram a imagem de um banco que viu a confiança quer de clientes, quer de accionistas ser fortemente abalada.
Haverá quem advogue problemas de concorrência, e que esta fusão poderá ser prejudicial nesse aspecto. Não será tanto assim, os bancos e grupos bancários a operarem em Portugal são em número bastante elevado. Por conseguinte, neste aspecto particular, a fusão não terá consequências de maior. Pelo contrário, a possibilidade dos dois bancos se unirem poderá traduzir-se num fortalecimento da posição do Millenium BPI (nome sugerido na proposta de fusão). E quem sabe se este novo banco não poderá olhar de outra forma para o mercado ibérico e europeu, tendo obviamente um outro peso.
Esta questão será naturalmente resolvida pelo Conselho de Administração do banco – que tem saído muito fragilizado depois da crise do BCP – e pelos accionistas. De qualquer modo, a fusão proposta pelo BPI poderá ser a melhor forma do BCP ultrapassar a crise. Não terá sido certamente o pagamento à divida do filho de Jardim Gonçalves que afastou todas as dúvidas e a crescente desconfiança que assolou o maior banco privado português.
Toda a estratégia montada pelo BPI e pelo seu presidente Fernando Ulrich reveste-se de uma acutilância notável. A começar pela altura em que a proposta foi feita – quando o BCP está visivelmente fragilizado, passando pelo próprio nome sugerido, Millenium BPI, e culminando com a mensagem do BPI que se pretenderá dar acentuada importância à questão de ambos os bancos serem portugueses, isto na sequência de notícias que veiculavam o interesse de bancos espanhóis (o BBVA, por exemplo) no BCP. Fernando Ulrich independentemente do resultado da proposta que fez, conseguiu fazer passar uma imagem muito positiva para o BPI – a imagem de um banco sólido que vem em socorro de um BCP fragilizado e em aflição.
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