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Entre avanços e recuos

O primeiro-ministro José Sócrates brilhou na Cimeira de Lisboa com a obtenção de um acordo sobre o novo Tratado Reformador da União Europeia. É evidente que este é um processo que vem de longe, e que a presidência alemã da UE teve um papel determinante nas negociações que tornaram possível este acordo. Mas de um modo geral, o primeiro-ministro português teve um papel preponderante para o sucesso das negociações.
A presidência portuguesa da União Europeia tem estado a correr bem, mas o momento, que se prevê mais complicado para Portugal, está para chegar. Em Dezembro vamos assistir à Cimeira Europa-África, com a presença praticamente confirmada de Robert Mugabe, o polémico líder do Zimbabué. Esta presença invalida uma outra – a de Gordon Brown, primeiro-ministro britânico. É este mal-estar que ensombra a União Europeia, escolhendo o fecho de uma porta importante ao primeiro-ministro britânico, em troca da abertura de uma outra ao ditador africano, em nome da real politik, ou seja do que for.
Ora, são estas divisões e a mais do que evidente falta de solidariedade entre Estados-membros que condenam a União Europeia a constantes avanços e recuos. Hoje avançou-se com o acordo sobre o Tratado Reformador ou Tratado de Lisboa; contudo, logo a seguir verifica-se um recuo com a recusa do primeiro-ministro de um Estado-membro em se deslocar para uma cimeira, numa capital europeia. A presença de Robert Mugabe causa um profundo mal-estar no seio da UE. E não haverá a possibilidade de outros Estados-membros preferirem manifestar a sua solidariedade com o primeiro-ministro britânico, em vez de se sentarem à mesma mesa com Mugabe?
De qualquer modo, o sucesso do primeiro-ministro português, neste quadro das negociações sobre o Tratado Reformador, é indubitável. O próprio ambiente que se viveu nos minutos subsequentes ao acordo foi de um à-vontade pouco habitual nestas negociações. Convém referir que as indecisões acerca do Tratado Reformador, herdeiro da malograda Constituição, bloqueavam o funcionamento da própria UE; consequentemente o sucesso em torno do acordo é uma excelente notícia para a Europa, e tem um protagonista que se destacou: José Sócrates.
Este Tratado de Lisboa poderá ser determinante para a construção de uma Europa mais forte. Paradoxalmente, verifica-se o desenvolvimento de políticas que não se coadunam com a solidariedade indispensável entre os vários Estados-membros. A escolha de Robert Mugabe em detrimento do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, representa um fracasso inexorável para a presidência portuguesa. E ainda não sabemos todas as consequências desta escolha polémica. Porque é disso que se trata – de uma escolha. A presidência portuguesa da UE fez a escolha errada, e não será preciso esperar até Dezembro para se perceber isso.

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