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Congresso do PSD

Agora que finalizou o congresso de Torres Vedras do PSD, justifica-se um comentário mais extenso sobre o assunto. O congresso foi, genericamente, morno. Teve momentos que serviram para alimentar a ferocidade de alguma comunicação social, designadamente o convite público do líder, Luís Filipe Menezes, a Manuela Ferreira Leite, e a expectativa quanto à possível candidatura de Santana Lopes ao lugar de líder da bancada parlamentar.
É evidente que a ausência de algumas personalidades do partido marcou o congresso – a tão almejada união do partido ficou assim, desde logo, comprometida. Não deixa de ser negativo para o PSD a incapacidade de sanear antagonismos internos, que apesar de até certo ponto serem normais, não deixa de afectar negativamente o partido, em particular quando as ausências são de personalidades reputadas do partido. O discurso do agora líder do PSD – designadamente durante a campanha eleitoral – terá contribuído para o actual estado de coisas no seio do PSD.
Mas no essencial é importante sublinhar a tentativa de Luís Filipe Menezes de mostrar ao país algumas linhas gerais de um projecto para o Portugal. Sendo certo que se tratou apenas da exposição genérica de algumas ideias, não deixa, porém, de ser relevante a tentativa do PSD se distanciar das políticas do actual Governo. Ora, é esse distanciamento e exposição de ideias alternativas à actual governação PS que é profícua para a qualidade do debate político. A ideia, mais ou menos consensual, de que as diferenças entre os dois principais partidos políticos têm sido esbatidas ao longo do tempo deve ser contrariada, e o PSD tem agora uma oportunidade de ouro para mostrar essas diferenças.
No actual contexto de um manifesto esmorecimento dos cidadãos em relação ao sistema político-partidário, exige-se mais aos partidos políticos, designadamente que falem para os portugueses, que exponham coerentemente as suas ideias, que abandonem de uma vez por todas as intrigas internas e as falácias disfarçadas de ideias políticas.
O PSD tem agora uma nova liderança que tem sido classificada como sendo populista, não se sabendo até que ponto existe uma convergência real entre esse epíteto e o estilo que Luís Filipe Menezes vai utilizar nas intervenções e nas propostas como líder do partido. É igualmente verdade que ainda agora a procissão vai no adro, mas talvez fosse de uma enorme proficuidade que se desse uma oportunidade a Luís Filipe Menezes de mostrar o seu estilo e a natureza das suas ideias. Na verdade, o líder do partido não parece muito incomodado com as críticas porque sabe muito bem que são os portugueses que vão decidir o seu futuro político e o futuro do partido, e não tanto as vozes dissonantes que se têm levantado contra a actual liderança. Vamos esperar para ver se o PSD vai conseguir ser uma verdadeira alternativa ao Governo de José Sócrates. De qualquer modo, o país precisa de alguma agitação política, sob pena de se afundar na mais completa inércia colectiva.

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