O título remete-nos para um registo mais humorístico, mas a última polémica em volta do BCP é de uma gravidade a vários níveis. Existem fortes suspeitas que o banco em questão terá perdoado uma dívida de vários milhões de euros ao filho de Jardim Gonçalves – presidente do conselho de supervisão do BCP e fundador do banco –, e a um accionista. O Banco de Portugal e a CMVM já estão a investigar o caso. Depois das lutas internas, entre o mesmo Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto, pelo poder, vem agora esta nova polémica para manchar indelevelmente a imagem do maior banco privado português.
A existência de tratamento preferencial relativamente a alguns clientes de um banco – mesmo sendo uma instituição privada –, em função de ligações familiares é moralmente errado, e aparentemente ilegal. Mas mesmo que seja uma operação legal, é moralmente errada. Além disso, esta operação perdulária do BCP comprou várias guerras – com os accionistas, com os clientes, e até certo ponto, com a generalidade dos portugueses que vê nisto a corroboração daquela teorias, que não são de todo infundadas, de que os ricos e poderosos têm acesso a benesses injustas fora do alcance do comum dos mortais.
Ora, mesmo que se venha a provar a legalidade desses perdões de dívidas e de juros, a questão da confiança – elemento chave de qualquer instituição bancária – é afectada de forma muito contundente. Este caso já teve repercussões na bolsa, onde as acções do BCP desvalorizaram mais de 210 milhões de euros (no dia 15 de Outubro), e existem indícios de que muitos clientes terão a intenção, e alguns já a concretizaram, de deixar de serem clientes deste banco. Consequentemente, a imagem do banco foi inequivocamente manchada, resta saber a dimensão real do estrago e se os casos avançados pela comunicação social são mesmo os únicos, ou pelo contrario, são apenas a ponta do iceberg.
Ninguém refuta a importância dos bancos para a economia do país e o sucesso das instituições bancárias a operarem no mercado português é um facto globalmente positivo. Agora o que não se justifica são abusos desta natureza, nem tão-pouco se justifica a opacidade que acompanha muitas operações dos bancos, em particular na relação com os seus clientes. Vigora aquela ideia, entre a maioria das instituições bancárias, que dar toda a informação, de forma clara, aos clientes poderá ser contraproducente para o banco. Essa é uma evidência indiscutível.
É possível que não seja apenas a imagem do BCP a ser afectada, mas poderá acontecer que todas as instituições bancárias saiam beliscadas com este caso vergonhoso. Sendo, todavia, evidente que os danos na imagem do BCP serão sempre de maior monta. Numa altura em que os portugueses fazem face à subida das taxas de juro e têm manifestas dificuldades no pagamento dos créditos que contraíram, é no mínimo vergonhoso que verifiquem que essa nunca foi uma dificuldade para quem é filho da pessoa certa ou tem circula nos meios mais influentes. Just business as usual.
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