Avançar para o conteúdo principal

Inverno Russo


O Inverno aproxima-se e a necessidade de consumo de recursos energéticos aumenta exponencialmente. É precisamente no Inverno que a Rússia faz aquela espécie de chantagem energética com a Europa. Aumentam, por conseguinte, as dificuldades que Europa encontra na tarefa de lidar com uma Rússia que quer regressar aos tempos áureos do império.

Do ponto de vista meramente factual são vários os episódios de uma Rússia que anseia por recuperar o seu espaço no contexto internacional. E é através de manifestações do seu poderio que a Rússia quer mostrar ao mundo que ainda é uma potência mundial (ou pelo menos anseia a recuperação dessa condição), o episódio do Pólo Norte e da colocação da bandeira russa são paradigmáticos da estratégia hegemónica adoptada pela Rússia. Do mesmo modo, não se pode ignorar o anúncio russo de construção de um sistema de mísseis. E não esqueçamos a intransigência russa em relação ao Kosovo, que se traduziu num bloqueio no Conselho de Segurança da ONU, ou a constante animosidade entre a Rússia e ex-repúblicas soviéticas – a Ucrânia continua a ser interessante do ponto de vista europeu, mas também do ponto de vista russo.

É neste contexto de claro ressurgimento russo que chegamos ao Inverno. A dependência energética europeia é inequivocamente aproveitada pela Rússia que tem vindo a adoptar uma postura de intransigência e de alguma provocação. A Europa tem nítidas dificuldades em lidar com a Rússia, e a tarefa é claramente dificultada pela ausência de argumentos dissuasivos (militares). De qualquer modo, este ressurgimento russo é uma excelente oportunidade para a Europa mostrar a sua união – a convergência de ideias de Sarkozy, Merkel e Brown são um bom prenúncio.

Por outro lado, a fragilidade americana, consequência da guerra do Iraque, representa uma janela de oportunidade para a Rússia que parece cada vez mais czarista.

Em suma, a Rússia prepara terreno para um regresso como potência num contexto multipolar. Se para isso tiver de recorrer a exercícios que não se coadunam com a ordem internacional, fá-lo-á sem hesitações. O seu passado mostra isso mesmo e a Rússia nunca se conformou com a sua condição pós-URSS. O Inverno está à porta, não se sabendo bem se este vai ser um Inverno mais frio do que é costume. A Rússia pode dar uma ajuda nesse sentido.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...