
Mário Soares, em entrevista ao Diário Económico, insurgiu-se contra a “diabolização de Hugo Chávez”, e adiantou ainda que na sua percepção o polémico encerramento do canal de televisão foi uma mera questão de licença que não foi renovada. A entrevista não acaba sem que Mário Soares caracterize o canal em questão como mostrando “uma imensa agressividade e impertinência para com Hugo Chávez”.
Antes de qualquer comentário sobre a entrevista de Mário Soares, importa sublinhar a importância que o mesmo teve (e tem) para o país e para a consolidação da democracia. Não obstante as divergências que se possa ter relativamente a algumas posições ideológicas de Mário Soares, o respeito que lhe é devido deve sempre estar presente. O passado não pode ser esquecido, sob pena de cairmos na mais completa hipocrisia.
As observações de Mário Soares sobre a Venezuela chocam pela cegueira ideológica e pela naturalidade com que se olha para os claros atropelos à democracia na Venezuela. É mesmo irónico verificar que a mesma pessoa que pugnou pelas liberdades e pelo sistema democrático, faça uma análise tão complacente da actual situação na Venezuela. Mário Soares tem razão quando diz que Hugo Chavéz foi eleito democraticamente, contudo, isso não invalida o posicionamento radical de Chávez no que toca aos princípios mais elementares da democracia.
Do mesmo modo, a questão do encerramento de um canal de televisão não pode ser levianamente justificado com o recurso a subterfúgios. Hugo Chávez decretou o encerramento do dito canal porque o mesmo lhe causava incómodos – não esqueçamos que o canal em questão fazia uma acérrima oposição ao regime de Chávez. A democracia Venezuelana, que atravessa tempos difíceis, saiu claramente fragilizada depois do encerramento do canal de televisão. Abriu-se mais um pressuposto que mina qualquer democracia. Com este pano de fundo, dificilmente se consegue perceber a posição de Mário Soares sobre a Venezuela de Chávez.
Refira-se ainda que esta não é a primeira vez que Mário Soares adopta posições mais radicais, designadamente sobre política externa. Não deixa, porém, de surpreender essa radicalidade no discurso de Mário Soares, em particular quando se trata de questões que se prendem com as liberdades fundamentais dos cidadãos (deste ou de qualquer outro país), liberdades essas que foram a pedra de toque da vida política de Mário Soares.
Comentários
Porque é que não aparece na comunicação social a entrevista que o Presidente Hugo Chaves deu, na TV Portuguesa, ao Dr. Mário Soares?
Ouvi a parte final e pareceu-me ter muito interesse e por isso procurei-a mas em vão.
Parece que temos cencura novamente
em Portugal.