A precariedade do emprego generalizou-se em Portugal, dir-se-á que é um sinal do tempo e da inevitabilidade da globalização. Com a crescente concorrência de países que praticam o “dumping” social – práticas salariais ridículas e total ausência de direitos sociais –, generalizou-se a ideia da irreversibilidade do emprego precário.
Os recibos verdes são um dos paradigmas da precariedade, existem cada vez mais trabalhadores que estão presos ao logro dos recibos verdes que se institucionalizaram em Portugal. A situação dos recibos verdes pode prolongar-se por tempo indefinido. Adia-se assim, também, a concretização, em particular por parte dos jovens, de sonhos que são comuns a todos. É uma hipocrisia querer negar esta realidade. Some-se a isto todas as consequências da famigerada crise e o resultado é óbvio: assiste-se a uma inelutável perda de qualidade de vida.
Refira-se a multiplicidade de justificações para fundamentar o recrudescimento da precariedade, que vão desde a falta de qualificação dos trabalhadores (quando uma vasta franja dos trabalhadores em situação de recibos verdes têm, na verdade, qualificações) até à baixa produtividade que coarcta a sustentabilidade das empresas. O ónus estará sempre do lado mais fraco. Quando na verdade a falta de sustentabilidade de muitas empresas está relacionada com práticas de gestão obsoletas, com falta de visão estratégica, etc.
O que se mantém inalterável é a constante precariedade que faz parte da vida de demasiadas pessoas. A perpetuação dos recibos verdes (casos de trabalhadores que se mantém anos nessa instabilidade é recorrente) é de difícil justificação e contraproducente. Não estará também a baixa produtividade relacionada, de certa forma, com a insatisfação dos trabalhadores? E com a permanente instabilidade que caracteriza as suas vidas?
E finalmente, convém sublinhar que os problemas decorrentes da precariedade têm consequências para o país. Um país cada vez mais desinteressado, mais letárgico, com menor capacidade de enfrentar os desafios do futuro. Com efeito, quando não se vislumbram perspectivas de futuro para as nossas vidas, por que razão é que poderíamos vislumbrá-las no que toca ao futuro do país. O desânimo e o descontentamento não são indissociáveis das dificuldades com que os trabalhadores são confrontados – a precariedade do emprego está no topo da lista de dificuldades de um número crescente de portugueses. A precariedade do emprego não é a solução para a falta de competitividade do país, nem tão-pouco é o caminho a seguir.
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