Avançar para o conteúdo principal

O país de férias


Agosto é o mês de férias por excelência. Na política (e não só) instala-se a silly season, como se de uma efeméride se tratasse. Num país que não se pode dar ao luxo de esperar, e essencialmente, num país extenuado pela demora na chegada de dias melhores, é tudo normal. Mas se por um lado, a silly season chegou (havendo mesmo quem garanta que a mesma há muito tempo que está connosco), por outro, os problemas do país não desapareceram.

As férias não são, nem nunca foram, iguais para todos. Existem, pois, dificuldades que começam a ser familiares a uma vasta franja de portugueses. O desemprego, a precariedade do emprego, a perda substancial de poder de compra, e fundamentalmente, a mais inexorável ausência de perspectivas de futuro são comuns a muitos cidadãos deste país.

Entretanto, o Governo abrandou o seu ímpeto reformista, aliás as reformas tão necessárias parecem ter ficado na gaveta. A área da Justiça, Administração Pública e Educação parece terem tirado férias há décadas, de tão escassas que são as melhorias nessas áreas. E mais: parece que ainda não vai ser desta (ou nesta legislatura) que as mesmas vão conhecer as mudanças tão necessárias ao desenvolvimento do país. Infelizmente, o tempo escasseia e essas mudanças permanecem indefinidamente adiadas.

Em Setembro, tudo permanecerá na mesma: o Governo continuará a fingir ter um projecto para o país, muito além das medidas avulsas que subitamente, e com o auxilio dos meios de comunicação social, se transformam em políticas de fundo; a oposição tentará esconder o vazio de ideias que a tem caracterizado; e os portugueses continuaram a ter de recorrer à imaginação e ao pragmatismo para conseguirem sobreviver a demasiados anos de crise.

Tudo permanecerá, pois, imutável. O ócio e o tempo aprazível têm o condão de provocar uma amnésia temporária – e o Governo sabe-o muito bem –, todavia, Setembro aproxima-se vertiginosamente e com ele voltam os problemas, que na verdade não desapareceram, apenas hibernaram. A silly season, contudo, prolongar-se-á por tempo indeterminado – o Governo continuará a soçobrar lentamente em função da arrogância e da vacuidade dos seus membros, e a oposição procurará escamotear as suas inelutáveis fragilidades.

Comentários

Unknown disse…
Por falar em férias...boa ideia! A precariedade também tem direitos!
A precariedade é só para alguns...pena que esses “alguns” sejam cada vez mais frequentes! A precariedade pode-se demonstrar de muitas maneira, não só através do contrato de trabalho mas também através da manipulação psicológica das chefias, que parecem, regra geral, terem os neurónios de férias à muito. A palavra "incentivo" ou "reforço positivo" é “muito à frente” para essas criaturas cada vez mais mecânicas e gananciosas!
A inteligência também não prevalece muito entre as chefias, pois o "chicote psicológico" há muito que deixou de funcionar para seu proveito, pois ninguém faz um bom trabalho desmotivado!!!! Mas afinal, “já é bom ter-se um contrato…não interessa se recebes um salário no final…”! Vida…vida….

Mensagens populares deste blogue

Mais uma indecência a somar-se a tantas outras

 O New York Times revelou (parte) o que Donald Trump havia escondido: o seu registo fiscal. E as revelações apenas surpreendem pelas quantias irrisórias de impostos que Trump pagou e os anos, longos anos, em que não pagou um dólar que fosse. Recorde-se que todos os presidentes americanos haviam revelado as suas declarações, apenas Trump tudo fizera para as manter sem segredo. Agora percebe-se porquê. Em 2016, ano da sua eleição, o ainda Presidente americano pagou 750 dólares em impostos, depois de declarar um manancial de prejuízos, estratégia adoptada nos tais dez anos, em quinze, em que nem sequer pagou impostos.  Ora, o homem que sempre se vangloriou do seu sucesso como empresário das duas, uma: ou não teve qualquer espécie de sucesso, apesar do estilo de vida luxuoso; ou simplesmente esta foi mais uma mentira indecente, ou um conjunto de mentiras indecentes. Seja como for, cai mais uma mancha na presidência de Donald Trump que, mesmo somando indecências atrás de indecências, vai fa

Normalização do fascismo

O PSD Açores, e naturalmente com a aprovação de Rui Rio, achou por bem coligar-se com o "Chega". Outros partidos como o Iniciativa Liberal (IL) e o CDS fizeram as mesmas escolhas, ainda que o primeiro corra atrás do prejuízo, sobretudo agora que a pandemia teve o condão de mostrar a importância do Estado Social que o IL tão avidamente pretende desmantelar, e o segundo se tenha transformado numa absoluta irrelevância. Porém, é Rui Rio, o mesmo que tem cultivado aquela imagem de moderado, que considera que o "Chega" nos Açores é diferente do "Chega" nacional. Rui Rio, o moderado, considera mesmo que algumas medidas do "Chega" como a estafada redução do Rendimento Social de Inserção é um excelente medida. Alheio às características singulares da região, Rui Rio pensa que com a ajuda do "Chega" vai tirar empregos da cartola para combater a subsidiodependência de que tanto fala, justificando deste modo a normalização que está a fazer de um pa

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação e Trump é o ma