Avançar para o conteúdo principal

O fenómeno da globalização


O acelerado desenvolvimento informático, dos meios de comunicação, e de um acentuado melhoramento dos meios de transporte proporcionaram as condições necessárias para o estabelecimento da globalização. Fenómeno incontornável dos dias de hoje. É claro que a queda do Muro de Berlim e o fim do comunismo são elementos indissociáveis do advento da globalização. Afinal, com o fim da guerra-fria só houve um vencedor: o capitalismo. Seria natural que este sofresse uma aceleração e que se estendesse um pouco por todo o mundo.

A globalização é vista por muitos como o pano de fundo ideal para a saída de uma situação de pobreza de muitos milhões de habitantes deste planeta. E de facto, a China e a Índia são paradigmas desse alegado sucesso, e existem hoje, segundo algumas estimativas, menos pobres do que há alguns anos atrás. Parece, pois, que os apologistas da globalização triunfaram. Mas será mesmo assim?

Com efeito, existe hoje na China uma classe média fortalecida, qualquer coisa de inexistente no passado. Contudo, e não obstante o acelerado crescimento da economia, a China a par de outros países está a trilhar exactamente o mesmo caminho que os países ocidentais trilharam no passado, incorrendo nos mesmos erros. As cidades crescem de forma selvática e os custos ambientais começam a ser incomensuráveis. Enquanto nos países mais desenvolvidos se procura corrigir erros antigos, nos países em vias de desenvolvimento ignora-se por completo os exemplos do passado.

Por outro lado, assiste-se ao fenómeno do “dumping” social, fenómeno esse que se vulgariza de forma assustadora. A China, neste aspecto, como em outros, não tem dado um contributo para o cerceamento deste problema social. Afinal, uns países utilizam umas regras e outros utilizam regras distintas, quando todos jogam o mesmo jogo. O fenómeno da globalização tem este aspecto que não pode ser analisado de forma despicienda: o mal-estar social não é apenas característica dos países mais pobres, começa-se a instalar nos países mais desenvolvidos. A precariedade do emprego, os despedimentos em massa, a instabilidade e insegurança não podem ser considerados como sendo simplesmente normais.

Nem tão-pouco se pode achar normal o aumento da clivagem entre os obscenamente ricos e os tragicamente pobres. São estas incongruências que devem ser convenientemente abordadas sempre que se fala em globalização. Se por um lado, se reconhece os aspectos positivos deste fenómeno, do mesmo modo, se deve enfatizar os aspectos negativos e pugnar pela sua correcção. Claro que tudo isto não passa de uma utopia enquanto os mecanismos reguladores da globalização forem incipientes, designadamente a OMC, FMI e o Banco Mundial. Já para não falar da excessiva preponderância de países como os EUA e agora a China.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...