Avançar para o conteúdo principal

O descontentamento

Se por um lado, já se tinha o conhecimento real de que cada vez se vive pior no nosso país; por outro lado, os últimos estudos da União Europeia a 15 expõem a clivagem entre Portugal e a generalidade dos Estados-membros da União Europeia. Em Portugal ganha-se em média menos 40 porcento comparativamente com os restantes países que compõem a Europa a 15. Foi também notícia esta semana que o fosso entre ricos e pobres é maior em Portugal do que noutros países europeus.
Estes dois indicadores são sintomáticos de um país que atravessa uma crise persistente, e mais: estes indicadores mostram um país cada vez mais desigual. Ora, as melhorias que tardam em chegar para a generalidade dos portugueses, parece que chegaram antecipadamente a outros portugueses que, segundo uma revista conceituada, aumentaram em cerca de 35 porcento a sua riqueza. Perante isto, é impossível continuar a escamotear o seguinte: Portugal é um país que não encontra o rumo do desenvolvimento sustentável, muito pelo contrário, por vezes parece ser um país da América do Sul.
Por muitas razões que sejam apontadas para justificar todas as dificuldades que o país atravessa, não é viável que o retrocesso nas condições de vida dos portugueses possa continuar. E o mais grave é que, apesar das promessas do Governo – no contexto do ímpeto reformista –, não estão a ser operadas as mudanças necessárias em áreas estratégicas. O que é que se está a fazer na área da Justiça? A reforma da Administração Pública cinge-se apenas aos funcionários públicos? A Educação foi esquecida? Deste modo, não se está a construir um país com futuro.
Sublinhe-se ainda o definhamento da classe média que é um facto indubitável e que tem vindo a agravar-se nos últimos anos. Este é um sinal claro de que o país está condenado ao permanecer no último lugar que ocupa nos rankings europeus que digam respeito à qualidade de vida – esta deixou de existir para muitos portugueses.
O descontentamento vai deixando, gradualmente, de ser silencioso. São demasiados os jovens que vivem na precariedade, desprovidos de quaisquer perspectivas, são demasiadas as pessoas que vivem no desemprego. Da mesma forma, os salários estagnaram ou minguaram, mas no sentido diametralmente oposto, o poder de compra sofreu um duro decréscimo. Vive-se mal, e quando se estabelecem paralelos com outros países europeus, essa percepção sofre um novo reforço.
Enfim, o Governo tem de sair da sua habitual redoma de arrogância e distanciamento. Isto porque não há nada mais perigoso do que um povo que vive mal e perde a esperança de poder viver melhor.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...