
O afastamento da directora do Museu Nacional de Arte Antiga é mais uma intransigência do Governo. Ao invés de permitir o diálogo aberto, a troca de ideias e promover as boas relações entre directores e as respectivas tutelas, o Governo, através da ministra da Cultura, faz precisamente o inverso, afasta quem se manifesta contra o que foi estipulado pelo Governo.
Em rigor, não se pode comparar este caso da directora do MNAA com o caso Charrua ou com a directora de um centro de saúde de Vieira do Minho. Trata-se de um conflito sobre o modelo de gestão do mais importante museu português. De qualquer modo, a ministra da Cultura age de forma errada, não percebendo que o clima de suspeição que foi criado por este Governo é indelével e exacerba qualquer caso que apresente similitudes com os já referidos. É natural que alguns partidos da oposição tenham empolado este afastamento e é sobejamente conhecida a estratégia deste partidos: sendo óbvia a sua impotência em apresentar alternativas às políticas do Governo, não lhes resta outra opção que não seja a de aproveitarem os erros do Governo.
O trabalho da directora em questão tem sido alvo dos mais variados elogios: as receitas aumentaram e o mesmo se passou com a afluência de público ao museu. A justificação para o seu afastamento prende-se com discordâncias sobre a autonomia do museu. É evidente que, depois de tantas situações a evidenciarem laivos de autoritarismo do Governo, este caso tenha tomado proporções exacerbadas. Refira-se, contudo, que o afastamento da directora é erro dúplice: um erro que tem implicações no futuro do próprio museu, mas é também um erro político graças à existência de um clima que não se coaduna com os princípios democráticos.
Os membros do Governo têm manifestado uma acentuada insensatez na forma como têm lidado com as discordâncias dos seus funcionários. E é este o calcanhar de Aquiles do Executivo de José Sócrates: lida mal com a crítica, e a resposta a essas críticas traduz-se, amiúde, no afastamento dos seus autores. O clima de mal-estar está instalado e de cada vez que o actual Executivo afastar alguém por falta de confiança política ou institucional, o Governo sairá novamente fragilizado.
Comentários