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Desperdício nacional


Portugal tem mostrado ser um país que não oferece um futuro condigno àqueles que apostaram na sua formação académica. A intitulada fuga de cérebros é um problema com gravíssimas consequências para o futuro do país. A verdade é que são cada vez mais aqueles que optam por trabalhar no estrangeiro; países como a Inglaterra, República da Irlanda, Espanha ou Holanda – isto para não referir países extra-comunitários – oferecem condições que Portugal está longe de igualar.
É no mínimo lamentável verificar que, não obstante o esforço e mérito de quem dedicou parte substancial da sua vida aos estudos, estes cidadãos com elevada formação não obtenham do país o reconhecimento necessário. E desde logo é paradoxal o Estado investir na formação dos seus cidadãos e, ao invés de aproveitar esses recursos, incorre no erro de permitir a fuga dos mais capazes. Em bom rigor, são os nossos parceiros europeus, e porventura outros Estados, que aproveitam esses recursos. Quantos engenheiros, médicos dentistas, licenciados em farmácia, etc. saem do país em busca de melhores condições de vida?
E o que é que o país está a fazer para evitar esta monumental asneira? Muito pouco ou nada, senão vejamos: os portugueses que dedicam a sua vida à investigação, por exemplo, vivem numa situação de inadmissível precariedade, não se percebendo muito bem qual a intenção de alguns putativos governantes que fazem demagogia com a importância da ciência e da investigação. Talvez esta incongruência se possa explicar através de razões culturais e com a imbecilidade daqueles que insistem em ter uma visão redutora do mundo cada vez mais competitivo em que vivemos.
De facto, quem nos governa, e não só, insiste em não valorizar a formação dos recursos humanos, apesar dos discursos pomposos sobre a matéria. Não obstante as intenções meritórias de alguns, que amiúde não passam disso mesmo, a realidade mostra-nos um país que ainda não percebeu que a saída desta crise em que o país se afunda passa, incontornavelmente, pela formação e aproveitamento dos recursos humanos. Sublinhe-se que é impossível Portugal aumentar a quantidade e qualidade das suas exportações se não desenvolver produtos inovadores e de qualidade – isto só pode ser conseguido através de um tecido produtivo cuja qualidade seja inequívoca. Ora, a qualidade e inovação passam objectivamente pela investigação.
Mas exactamente por que razão há lugar à tal fuga de cérebros? Por uma multiplicidade de razões:
· As elevadas taxas de desemprego que afectam licenciados e possuidores de outros graus académicos
· Os baixos salários que se praticam em Portugal
· A visão míope de alguns empresários que não proporcionam aos seus colaboradores as condições necessárias para um investimento na formação
· O desprezo que um país manifesta ter perante todos aqueles que apostaram na sua formação – todos queremos ser doutores, mas quando o somos ou caímos no rótulo bacoco do título ou somos olhados com algum desdém
· A precariedade cada vez mais presente na vida de licenciados e de outros possuidores de diferentes graus académicos

O resultado? Um país que afasta o investimento – necessário à criação de mais postos de trabalho de qualidade –, um país que vai empobrecendo de dia para dia, um país pobre de ideias e de visão estratégica. Enfim, um país em que tudo é pensado a curto prazo. Quem consegue ver a longo prazo não vê mais do que um beco sem saída possível.

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