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Mário Centeno: um ministro que joga em dois tabuleiros

Ou responder a dois chefes que amiúde têm visões completamente diferentes um do outro. É assim que Mário Centeno, e outros antes dele, procede na qualidade de ministro das Finanças do governos do seu país e na qualidade de presidente do Eurogrupo. Ora, no caso em apreço a tal jogada em dois tabuleiros mostra-se ainda mais difícil tendo em consideração a tendência de governação, teoricamente mais à esquerda, coisa que pouco ou nada agrada a instituições altamente burocráticas e sentimentalmente próximas do neoliberalismo vigente.
Ora, Centeno é, deste modo, o verdadeiro mago deste Governo. E se Costa, primeiro-ministro, é mestre na venda de ilusões, o que dizer de Centeno? Talvez o à-vontade não seja exactamente o mesmo, mas os efeitos, ainda no domínio da ilusão, conseguem ir um pouco mais longe. Centeno, no sentido de agradar às instituições, cativa o que pode e o que não pode, como se vê no caso gritante da Saúde que depois de anos de desinvestimento, sofre um tratamento pouco ou nada melhor por parte do actual Executivo. Pagam os cidadãos com a degradação deste pilar do Estado Social. Outros sectores vão também conhecendo a degradação dos serviços enquanto Costa e Centeno sorriem, vendem ilusões e fingem poder agradar a dois mestres.
Contudo, chegará o dia em que as ilusões deixam de surtir efeito e em que se tornará visível a impossibilidade de se obedecer a dois chefes ou em jogar em dois tabuleiros. Em suma, chegará o dia em que será necessária fazer uma escolha e o dia em que essa escolha ficará visível para todos. Quase que adivinho que escolha será essa.
O facto, esse, é que é impossível cumprir as imposições externas e manter o Estado Social. Esse é o facto.
Entretanto a Comissão Europeia já veio avisar que a proposta de Orçamento de Estado para 2019 põe em risco as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Avisos de um dos dos mestres.

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