Avançar para o conteúdo principal

Fim de um ciclo

Cavaco Silva,  a muito custo e depois de colocar todas as dificuldades, não teve outro remédio que não fosse indigitar António Costa. Assim, o país terá um novo Governo do Partido Socialista apoiado, no Parlamento, por Bloco de Esquerda, Partido Comunista Português e Partido Ecologista "Os Verdes". A alternativa seria um Governo de gestão, visto de um forma geral como uma solução desastrosa.
A notícia é boa porque significa um virar de página, não à austeridade - essa continuará de forma mais suave - mas à forma de fazer política. Passos Coelho e o seu séquito inauguraram uma nova forma de fazer política: contra tudo e contra todos, a começar pela própria constituição da República, sempre a coberto do pensamento único assente na premissa de que não há alternativa. Essa forma de fazer política revestiu-se de outras características: a mentira, sempre a mentira; a incompetência generalizada - a mediocridade não permite outra coisa que não seja a incompetência. Foram tantos os episódios de incompetência que se torna difícil enumerá-los. Deixo só a título de exemplo, as listas de contribuintes VIP, um misto de mentiras e incompetência.
Passos Coelho e o seu séquito estão agora a pagar a factura de terem governado contra tudo e contra todos, incapazes de esconderem a sua imbecilidade enfatuada. O resultado está à vista: estão sozinhos e nem o Presidente (único aliado por partilharem a necessidade de proteger os mesmos interesses) lhes valeu.
O futuro próximo poderá trazer outras notícias: a ver vamos se Passos Coelho e Paulo Portas têm a capacidade de sobreviver politicamente. Duvido que o próximo Presidente da República, seja ele qual for, e mesmo com Passos Coelho na oposição, se mostre tão complacente com aquele que foi, infelizmente, primeiro-ministro. No PSD a ver vamos se ainda existe interesse em deixar na liderança alguém que está tão desgastado politicamente e se na eventualidade de aparecer um Rui Rio, por exemplo, Passos Coelho tem alguma hipótese. Por outro lado, Passos Coelho terá dificuldades em sobreviver fora do poder a que se habitou: a tal forma de fazer política - contra tudo e contra todos - terá de sofrer mudanças. É mais difícil ser-se um medíocre enfatuado na oposição. E por falar em mediocridade, relembrar que estamos a poucos meses de fazermos a festa de despedida de Cavaco Silva - outra boa notícia. Vai ser uma festa de arromba.

Comentários

Dalaiama disse…
Maravilhosa análise, maravilhoso momento este! Haja esperança! Saudações! =)
Finalmente voltámos a ter esperança! Saudações!

Mensagens populares deste blogue

Saídas para os impasses

As últimas semanas têm sido pródigas na divulgação de escândalos envolvendo o primeiro-ministro e as suas obrigações com a Segurança Social e com o Fisco. Percebe-se que os princípios éticos associados ao desempenho de funções políticas são absolutamente ignorados por quem está à frente dos destinos do país - não esquecer que o primeiro-ministro já havia sido deputado antes de se esquecer de pagar as contribuições à Segurança Social. A demissão está fora de questão até porque o afastamento do cargo implica, por parte do próprio, um conjunto de princípios que pessoas como Passos Coelho simplesmente não possuem. A oposição, a poucos meses de eleições, parece preferir que o primeiro-ministro coza em lume brando. E com tanta trapalhada insistimos em não discutir possíveis caminhos e saídas para os impasses com que o país se depara. Governo e oposição (sobretudo o Partido Socialista) agem como se não tivessem de possuir um único pensamento político. Assim, continuamos sem saber o que...

Fim do sigilo bancário

Tudo indica que o sigilo bancário vai ter um fim. O Partido Socialista e o Bloco de Esquerda chegaram a um entendimento sobre a matéria em causa - o Bloco de Esquerda faz a proposta e o PS dá a sua aprovação para o levantamento do sigilo bancário. A iniciativa é louvável e coaduna-se com aquilo que o Bloco de Esquerda tem vindo a propor com o objectivo de se agilizar os mecanismos para um combate eficaz ao crime económico e ao crime de evasão fiscal. Este entendimento entre o Bloco de Esquerda e o Partido Socialista também serve na perfeição os intentos do partido do Governo. Assim, o PS mostra a sua determinação no combate à corrupção e ao crime económico e, por outro lado, aproxima-se novamente do Bloco de Esquerda. Com efeito, a medida, apesar de ser tardia, é amplamente aplaudida e é vista como um passo certo no combate à corrupção, em particular quando a actualidade é fortemente marcada por suspeições e por casos de corrupção. De igual forma, as perspectivas do PS conseguir uma ma...

Outras verdades

 Ontem realizou-se o pior debate da história das presidenciais americanas. Trump, boçal, mentiroso, arrogante e malcriado, versus Biden que, apesar de ter garantido tudo fazer  para não cair na esparrela do seu adversário, acabou mesmo por cair, apelidando-o de mentiroso e palhaço.  Importa reconhecer a incomensurável dificuldade que qualquer ser humano sentiria se tivesse que debater com uma criança sem qualquer educação. Biden não foi excepção. Trump procurou impingir todo o género de mentiras, que aos ouvidos dos seus apoiante soam a outras verdades, verdades superiores à própria verdade. Trump mentiu profusamente, até sobre os seus pretensos apoios. O sheriff de Portland, por exemplo, já veio desmentir que alguma vez tivesse expressado apoio ao ainda Presidente americano. Diz-se por aí que Trump arrastou Biden para a lama. Eu tenho uma leitura diferente: Trump tem vindo a arrastar os EUA para lama. Os EUA, nestes árduos anos, tem vindo a perder influência e reputação ...