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A mostrar mensagens de julho, 2008

Instabilidade na Turquia

O Tribunal Constitucional (TC) turco acabou de deliberar sobre uma proposta de ilegalização do partido do primeiro-ministro e do Presidente da República, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP). Este partido pós-islamista é acusado de pôr em causa valores secularistas e de estar a destruir os fundamentos do Estado Laico, numa campanha de islamização do país. Assim, o AKP, partido do primeiro-ministro Erdogan e do Presidente Abdullah Gül, correu o risco de sofrer uma interdição e os seus membros, incluindo o primeiro-ministro e o Presidente da República, virem a ser expulsos. O país esteve suspenso por uma decisão que culminou com uma penalização financeira do partido. Entretanto, a Turquia encontra-se já dividida em secularistas radicais, por um lado, e islamistas, por outro. A razão da contenda é simples: os secularistas acusam os islamistas de minarem o laicismo, herança do pai da Turquia, Ataturk. Com efeito, a preponderância do ponto de vista eleitoral do AKP, que conseguiu el

Graves iniquidades

Depois do Diário de Notícias ter noticiado os elevados encargos com gestores públicos, seria a altura para se analisar a iniquidade que isso representa e, como não podia deixar de ser, o impacto que essas elevadas remunerações têm no erário público. O Governo, contudo, não parece disposto a encetar essa discussão, e mais: a forma como o Executivo reagiu prenuncia a manutenção deste estado de coisas. Na verdade, a perpetuação de empresas públicas cujos administradores, alguns não-executivos, auferem salários elevados e são ainda beneficiários de outras regalias, não deixa de ter repercussões na opinião pública. Ora, quando o Governo não resistiu em fazer de várias classes profissionais inimigos públicos – os professores talvez sejam o melhor exemplo – e, simultaneamente permite que gestores, alguns deles maus gestores, beneficiem de regalias e de elevadas remunerações, algo vai mal na cabeça de quem nos governa. A questão é simples: se o Governo se propõe a arrumar

Política externa à portuguesa

As últimas semanas foram marcadas por vários momentos, protagonizados pelo primeiro-ministro, em que a subserviência e a bajulação foram as pedras de toque da estratégia do Governo para conquistar o coração de ditadores. O rol de personalidades pouco recomendáveis é extenso: Hugo Chávez, José Eduardo dos Santos, Kadhafi e Obiang. Ora, a política externa do Governo não difere muito, em vários aspectos, do nosso comportamento colectivo com os estrangeiros – o que sobressai é uma subserviência bacoca e que nem sequer produz resultados. Dir-se-á que existem diferenças entre a política externa do actual Executivo e a política externa dos anteriores governos. É verdade. No passado continuávamos a insistir numa lógica de subserviência, procurando frequentemente passar despercebidos; a diferença relativamente ao Governo liderado por José Sócrates é que o primeiro-ministro não abandona essa lógica de subserviência, mas adiciona uma boa dose de bajulação, para que em troca possa estre

O silêncio do PSD

A ausência de propostas concretas por parte da líder do maior partido da oposição, tem dado azo a uma discussão sobre a estratégia adoptada pelo PSD. A estratégia parece simples: uma contenção ao nível de propostas alternativas às políticas do Governo; limites na profusão de críticas ao Governo, contrariamente ao que era apanágio das últimas lideranças; simplificação do discurso, associado à necessidade de falar a verdade; manutenção da ideia central de que a oposição deve, em primeiro lugar, fazer uma espécie de fiscalização efectiva ao Governo; aposta na imagem da seriedade e credibilidade, assentes numa rigidez quer do discurso, quer das acções. A estratégia do PSD está, a meu ver, longe de vir a produzir resultados positivos. Na verdade, é muito difícil gerir silêncios em política, o que vem apenas perpetuar a tibieza do partido. O PSD necessita de se diferenciar o mais possível do PS, se não o fizer corre o risco de não ser olhado como uma alternativa ao actual executivo. Este é

Endividamento das famílias

O endividamento das famílias portuguesas atingiu proporções preocupantes. E se, por um lado, o endividamento não é necessariamente negativo; por outro, quando os níveis de endividamento atingiram dimensões excessivas e quando o sobreendividamento cresce exponencialmente a par do crédito malparado, a questão merece ser tratada com maior acuidade. Os números são conhecidos: as dívidas dos Portugueses atingem 117 por cento do PIB; o crédito malparado cresceu 15 por cento no crédito concedido para habitação; o crédito malparado aumentou 50 por cento na concessão de outros créditos. Sabe-se também que os cidadãos estão endividados (há números que indicam que cada Português deverá cerca de 15 mil euros), as empresas estão endividadas e o Estado não consegue ser excepção. As causas que subjazem aos níveis de endividamento com os quais os Portugueses são confrontados e ao agora aumento do incumprimento são igualmente conhecidas: crédito fácil e barato associado a um elevado nível das expectati

Barack Obama: esperança ou desilusão?

A poucos meses das eleições americanas, e sem ainda se conseguir vislumbrar o vencedor das eleições, o candidato Barack Obama é, sem qualquer dúvida, o que mais interesse desperta na imprensa europeia. E se dúvidas há, nada como folhear os principais jornais e revistas de vários países europeus. O interesse justifica-se com as características do candidato e, claro, com o facto de ser afro-americano. Mas não podemos dissociar o interesse revelado pelo candidato democrata com o falhanço clamoroso da actual Administração Bush. Os erros cometidos pela ainda presidência e os resultados desastrosos não deixam outra alternativa que não passe pela esperança do próximo presidente ser diametralmente oposto ao actual. Hoje, intensificam-se as previsões do agravamento da instabilidade no Médio Oriente, designadamente graças a uma espécie de guerra-fria que se verifica que entre o Irão e Israel. O legado do ainda Presidente Bush condiciona a próxima presidência. De facto, mesmo que Barack Obama ace

O regresso da Guerra Fria 2

Hugo Chávez, entretanto, desmentiu a notícia, veiculada pela agência noticiosa russa Interfax, que dava conta das intenções do Presidente venezuelano de convidar a Rússia a instalar bases de mísseis em território venezuelano. O que seria vista como sendo uma nítida resposta às intenções americanas de instalarem um escudo de defesa anti-míssil na República Checa e na Polónia. É estranha, porém, a forma como uma agência noticiosa russa cita o Presidente venezuelano, por diversas vezes, a reiterar o convite à Rússia, mostrando total disponibilidade para receber “calorosamente” as Forças Armadas Russas. Chávez terá, inclusivamente, feito uma comparação com Cuba. De qualquer forma, o Presidente venezuelano desmentiu a notícia. Espera-se que haja alguma veracidade no desmentido de Hugo Chávez. Além do mais a retórica a raiar o belicismo não augura nada de bom; mesmo vinda de um líder ruidoso como Hugo Chávez.

O regresso da Guerra Fria?

O inefável Presidente venezuelano, Hugo Chávez, convidou a Rússia a instalar bases militares na Venezuela. O convite foi feito na reunião entre os dois chefes de Estado – Hugo Chávez e Dmitri Medvedev –, em Moscovo. O convite vem no seguimento da recusa russa sobre a instalação de um escudo anti-míssil americano na República Checa e na Polónia. O Presidente venezuelano revela uma enorme propensão para a asneira e tem manifestas dificuldades em conter a retórica irascível que tanto agrada a uma determinada esquerda. Regozijam-se os eternos “inimigos” dos EUA que vêem em Hugo Chávez uma espécie de paladino da luta contra o imperialismo. Depois do fim da União Soviética, do afastamento de Fidel Castro, da mistura insólita de capitalismo selvagem com ortodoxia comunista na China, dos sucessos relativos em matéria económica de países da América do Sul como o caso do Brasil e do Chile que se afastaram de ideologias anacrónicas, resta apenas Chávez para gáudio de uma certa esquerda. Quanto ao

É preciso que seja feita justiça

Radovan Karadzic foi preso na Sérvia. Trabalhava disfarçado num consultório. Foi preso o homem mais procurado da Europa, um dos responsáveis pelas maiores atrocidades cometidas na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Aguarda-se a sua extradição para a Holanda, onde será julgado, em Haia, no Tribunal Penal Internacional. A Sérvia cumpre assim mais um requisito na senda de entrar na União Europeia. Recorde-se que a UE tem vindo a exigir à Sérvia a detenção de criminosos de guerra. Karadzic foi responsável pelo maior massacre na Europa, em Srebrenica e responsável também pelo cerco a Sarajevo. Falta a detenção do chefe militar Ratko Mladic. Não obstante as suspeitas de que esta detenção não terá sido inocente e que poderia ter ocorrido há mais tempo, a verdade é que a detenção de Karadzic é uma excelente notícia para as vítimas dos seus crimes. Espera-se agora que seja feita justiça. Se fizermos um exercício no sentido de recordar as atrocidades cometidas por Karadzic, não conseguimos e

Presidente da República promulgou o Acordo Ortográfico

Depois do Acordo Ortográfico ter sido ratificado no Parlamento, foi agora a vez do Presidente da República ter promulgado o documento. Toda a discussão sobre o Acordo Ortográfico foi inquinada por uma classe política que trata os cidadãos com um desprezo absolutamente inaceitável. Exceptuando alguns cidadãos mais conscientes que colocaram questões sobre o documento, levantaram objecções e mais do que isso, contestaram, com recurso a uma sólida linha argumentativa, o acordo, este documento passou à revelia dos Portugueses. O Presidente mais não fez do que o já era esperado: promulgou o documento de acordo com a sua opinião sobre o assunto. Cavaco Silva sempre se mostrou favorável ao Acordo Ortográfico. As quase oitenta mil assinaturas que constam de uma petição contra o Acordo Ortográfico tiveram um impacto nulo na decisão do Presidente. É curioso como a classe política menospreza os cidadãos. Ainda que possamos compreender que muitas decisões não têm de passar d

A inevitabilidade de um ataque israelita

A possibilidade de Israel atacar instalações iranianas tem vindo a ganhar força. Quanto mais o tempo passar, mais essa possibilidade se tornará numa evidência. A explicação é simples: o tempo urge. Se Israel não se antecipar recorrendo a um ataque aéreo a instalações iranianas, o regime conseguirá desenvolver armas nucleares. Aliás, é expectável que o Irão seja detentor de tecnologia nuclear dentro de um a quatro anos. Resume-se tudo, por conseguinte, a uma questão de tempo. Todavia existem outros factores que jogam a favor da eminência de um ataque israelita: a ineficácia de sanções, a falência da política externa europeia, o acentuar da retórica iraniana que advoga a destruição do Estado hebraico. Paradoxalmente, a fraqueza dos Estados Unidos – consequência de opções falhadas da política externa da Administração Bush – pode pesar a favor de um ataque israelita; ou dito por outras palavras, o governo israelita pode chegar à conclusão que não pode estar, por tempo indeterminado, à esp

Angola: eleições

As eleições legislativas, a decorrer em Setembro em Angola, podem ser de grande importância para todo o contexto africano. Esta é a ideia que profusamente é divulgada por especialistas e pela comunicação social; isto é, quando o tema das eleições angolanas tem algum interesse para a comunicação social, em particular para a comunicação social portuguesa. As expectativas que se cria em torno das eleições que decorrem num país sob o jugo de um autocrata, podem sair totalmente goradas. A ideia de que as eleições angolanas poderem ser um exemplo para todo o continente africano só é viável se as mesmas tiverem lugar dentro da normalidade democrática de qualquer processo legislativo. Essa normalidade pressupõe a transparência do acto eleitoral. Ora, estas serão as primeiras eleições desde 1992, altura em que o processo eleitoral falhou. Mesmo tendo em consideração uma mudança no contexto político angolano – o fim da guerra civil –, dificilmente se poderá considerar que as eleições em Angola

Somália: um Estado falhado

A situação da Somália raramente é tratada pela comunicação social, sobretudo pela comunicação social portuguesa. Em abono da verdade, este não é o único país africano a ter problemas e a estar longe de qualquer processo de estabilização. Mas a existência de um Estado falhado levanta inquietações e requer respostas urgentes. Em traços gerais, o problema da Somália prende-se com a instabilidade do Governo e com as ostensivas insurreições de radicais islâmicos, a isto some-se a intervenção da Etiópia, por vezes raiando uma ingerência desmesurada, e estão criadas as condições que inviabilizam a existência de um Estado funcional e seguro. A proliferação da Jihad e o enfraquecimento das correntes mais moderadas são um péssimo augúrio para este país, e pode tornar a Somália num terreiro ideal para treino e doutrinação de terroristas. Hoje, são os jihadistas e os criminosos comuns que contribuem para o acentuar da instabilidade. Contudo, importa não esquecer a participaçã

Vítor Constâncio e a energia nuclear

O governador do Banco de Portugal (BdP) frisou a necessidade de se discutir a questão do nuclear. As declarações do governador foram feitas no Parlamento aquando da apresentação Boletim Económico de Verão. A Quercus reagiu, acusando o governador de “ingenuidade e desconhecimento”. É verdade que não se compreende bem estas declarações do governador, mesmo que o mesmo tenha constatado o óbvio: a escalada do preço do petróleo e as alterações estruturais que isso implica exigem uma discussão sobre questões energéticas. Todavia, parece que o governador extravasou as suas competências. Com efeito, o actual Executivo de José Sócrates tem recusado seguir a opção nuclear, e ainda recentemente foi feito um debate sobre o assunto. Por mais que a questão da energia seja um problema premente, mas não é seguramente uma das competências do governador do BdP. As reacções depois das declarações de Vítor Constâncio não se fizeram esperar: os defensores da opção nuclear ficaram encantados com a posição

A caricatura de Barack Obama

A capa da próxima revista The New Yorker está a provocar grande celeuma nos Estados Unidos. A capa – uma caricatura do casal Obama – tinha como intenção criticar os exageros e as falsidades sobre Barack Obama, uma espécie de crítica satírica aos exageros que alguns opositores de Obama fomentam sobre o senador do Illinois. O título é precisamente “A política do medo”. Todavia, a caricatura poderá não cumprir o objectivo a que se propunha, podendo mesmo provocar o efeito contrário. Nessa caricatura vê-se Barack Obama vestido com trajes muçulmanos, cumprimentando a sua mulher que ostenta uma metralhadora. O acontecimento tem lugar na Sala Oval, decorada com uma pintura de Bin Laden e onde se vê a bandeira americana a arder na lareira. A imagem é indubitavelmente provocadora, e apesar de tentar criticar as associações que alguns fazem entre o candidato presidencial Barack Obama e o terrorismo, não consegue ser feliz. Não obstante as críticas que possam recair sobre a caricatura da revista

Um sinal de esperança

É com alguma exasperação que se constata que a classe política é incapaz de dar sinais de esperança de que o futuro será mais promissor. Governa-se a prazo e amiúde sem se pensar, hoje, na construção do amanhã; o mesmo se passa com a oposição que não faz mais do que criticar avulsamente as incipientes medidas do Governo, enquanto este, por sua vez, governa com os olhos virados para 2009 – altura das próximas eleições legislativas. Ora, o cerceamento da esperança dos cidadãos não é compaginável com a construção de um país com futuro. Embora a recém-eleita líder do PSD tenha chegado há pouco tempo à presidência do partido, a verdade é que o discurso do PSD remete-nos frequentemente para o passado e raras vezes nos fala do futuro – do que é preciso fazer hoje para melhor a vida de todos nos próximos anos. Em abono da verdade, importa referir que o PSD tem criticado os laivos de novo-riquismo do Governo no que toca a obras públicas. A nova liderança do PSD mostra assim sentido d

Jogos de guerra

A tensão no Médio Oriente aumenta com a demonstração de força do Irão e, no mês passado, com movimentos militares israelitas. Estes jogos de guerra – as fotografias, ainda assim manipuladas, de testes de mísseis iranianos são apenas os exemplos mais recentes – agravam as relações entre Israel e o Irão. Recorde-se que o Presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, tem sido pródigo em afirmações que preconizam o desaparecimento de Israel, e mais recentemente, o aiatola Ali Khamenei ameaçou incendiar Telavive. As ameaças não ficaram por aí: já esta semana o regime iraniano ameaçou directamente o Estado israelita e as bases norte-americanas na região. Se por um lado, alguns analistas duvidam da concretização de uma acção militar israelita contra o Irão, sem o apoio norte-americano; por outro, muitos analistas têm reiterado a possibilidade desse ataque ocorrer muito brevemente, mesmo sem o apoio incondicional dos EUA. Com efeito, a Administração Bush já tem dificuldades em lidar com o Afegani

É tudo uma questão de estilo

O estilo do actual primeiro-ministro que, entretanto, sofreu uma metamorfose, foi sempre objecto de discussão. Agora junta-se a essa discussão sobre estilos, a forma como a recém-eleita líder do PSD faz política. É evidente que o estilo está longe de ser o mais importante, mas do ponto de vista eleitoral tem o seu peso. É igualmente verdade que, em Portugal, discute-se muito o estilo e pouco a substância das ideias apresentadas pela classe política. Seja como for, o estilo do primeiro-ministro foi, num primeiro momento, marcado pelo distanciamento, pela arrogância, pela recusa em enveredar por caminhos de consenso e diálogo; é agora disfarçado por uma maior abertura, pela complacência e pela compreensão relativamente aos problemas que assolam a vida dos cidadãos. De facto, passou-se de um período em que era necessário empreender reformas estruturais (que não tiveram grande seguimento), para um período em que a generalidade dessas reformas ou sofreram um abrandamento ou fora

O debate sobre o estado da Nação

O debate parlamentar sobre o estado da Nação não trouxe nada de novo; ou melhor, o primeiro-ministro aproveitou a ocasião para anunciar novas medidas sociais com o objectivo de aligeirar a crise que assola os cidadãos. Para além das medidas previamente anunciadas na entrevista da RTP, José Sócrates anunciou mais algumas tentativas, ténues é certo, mas ainda assim tentativas de ajudar as famílias portuguesas, sobretudo as mais desfavorecidas. A oposição desempenhou o papel a que nos habitou – limitou-se a criticar, sem apresentar alternativas exequíveis às políticas do Governo. O debate foi também marcado pela estreia de Paulo Rangel, líder da bancada parlamentar do PSD. Uma estreia com altos e baixos, mas que ainda assim contraria, em parte, o marasmo do Parlamento. Mais do que se debater as mesmas conclusões sobre o estado da Nação, importa agora encetar-se umaa discussão sobre soluções que permitam atenuar os efeitos da crise, sem nunca perder de vista as medidas necessárias que perm

O país das maravilhas

Numa altura em que as atenções políticas recaem sobre o debate da Nação, é boa altura para falar do país das maravilhas. Paradoxalmente, os cidadãos vivem em situação de contínua degradação da sua qualidade de vida, enquanto o Governo parece viver no país das maravilhas. E se o primeiro-ministro for com essa atitude, repleta de ilusões e propaganda, para o Parlamento, pode ser contraproducente para as aspirações do Executivo de José Sócrates. Perguntar-me-ão: mas afinal que país das maravilhas pode ser este? Para o comum dos cidadãos é difícil associar Portugal à palavra maravilha, mas esse exercício é fácil para o Governo. Nessa medida, a área da Educação é sintomática da existência de um país das maravilhas para o Governo. Não é por mero acaso que as médias dos exames nacionais conheceram, nos últimos anos, uma subida acentuada. Isso acontece porque vivemos no país das maravilhas, onde é possível que os alunos, em várias disciplinas, mas particularmente em matem

Relatório da SEDES

A associação para o desenvolvimento económico e social (SEDES) veiculou, em vésperas de debate sobre o Estado da Nação, as conclusões do seu relatório. Recorde-se que, em Fevereiro, a SEDES já tinha divulgado um relatório cujas principais conclusões diziam respeito ao clima de crispação que se vivia no país. Este relatório aponta noutro sentido – o abrandamento ou abandono das reformas que o Governo tinha proposto executar, em virtude das pressões do calendário eleitoral. E se por um lado é verdade que a SEDES não traz nada de particularmente novo à discussão, por outro, é também uma realidade que o Governo mudou de rumo, como já se referiu neste mesmo blogue. Em traços gerais, o Governo e, em particular, o primeiro-ministro começou por controlar os seus habituais episódios de irascibilidade e intransigência, substituindo-os por uma postura de maior tolerância, abertura e até compreensão. Reeleição a quanto obrigas! Em todo o caso, se a mudança tivesse sido apen

O relativismo do PCP

A recente libertação de Ingrid Betancourt tem o condão de revelar o relativismo que impregna o PCP. Depois da recusa em considerar as FARC uma organização terrorista – o marxismo substituído pela cartilha bolivariana não mudou em nada os métodos terroristas adoptados por esta organização –, o PCP afunda-se no relativismo a que nos tem habituado. O Partido Comunista Português necessita de perceber que o facto de defender uma organização terrorista (considerada também pela União Europeia como tal), ao ponto de convidar dirigentes políticos associados a essa mesma organização, está a incorrer na relativização do problema e mais grave: está a permanentemente a fundamentar os actos terroristas de um grupo que ainda deslumbra o PCP. Nestas discussões, é habitual levantar-se questões sobre a classificação de terrorista. Surgem então tentativas de se confundir insurreições com actos terroristas, um pouco na linha de comparação entre assuntos incomparáveis, revelando um desprezo inaceitável pe

Reunião G8

Começou ontem a reunião dos 8 países mais ricos, com a habitual participação da Rússia, e de vários países africanos. Os assuntos em cima da mesa são de grande importância, mas não é expectável que os resultados desta reunião sejam decisivos para resolver parte dos problemas que assola o mundo. Vários analistas sublinham a tibieza das lideranças e, consequentemente, a incapacidade das mesmas produzirem resultados assinaláveis. Além disso, a União Europeia continua a ser caracterizada por divergências internas, das quais se destaca as diferenças entre Reino Unido e França no que toca ao proteccionismo defendido por Sarkozy. A crise económica mundial – a escalada do preço do petróleo, a subida do preço dos alimentos, a desvalorização do dólar e a preocupação com o recrudescimento da fome e da pobreza – está na ordem do dia. Similarmente, a reunião terá igualmente como alvo a questão das alterações climáticas. Não se esperam resultados significativos da reunião por várias razões: pela tib

O Museu Salazar

O PS, PCP e Bloco de Esquerda manifestaram o seu profundo desagrado com a ideia de se criar um Museu Salazar, no seguimento das intenções da Câmara Municipal de Santa Comba Dão. O protesto tem o seu fundamento, mas mais do que isso não se consegue perceber muito bem que tipo de museu seria, e qual seria o seu conteúdo. Estes partidos políticos alertam para o perigo do local se tornar destino de peregrinação e da possibilidade de existir um qualquer culto da personalidade. Com efeito, a existência de um Museu dedicado exclusivamente a Salazar parece uma ideia sem grande nexo. Se estivéssemos a falar de um museu sobre o período do Estado Novo, já faria algum sentido, agora um Museu dedicado exclusivamente à figura de Salazar não é seguramente uma ideia feliz. A possibilidade de Santa Comba Dão se tornar um local de peregrinação não é, apesar de tudo, assim tão rebuscada. De facto, em alturas de maior crise social, de maior descrença em relação ao regime político e aos partidos políticos,

Desinvestimento do Estado

A ideia de que o Estado português, nos últimos anos, tem desinvestido em áreas estruturais do país tem ganho nova dimensão. Não é por acaso que a insegurança tem sofrido um recrudescimento – aumentou a criminalidade e mais do que isso, surgem novas formas de criminalidade. O Estado que surge invariavelmente pejado de dificuldades e com poucos recursos não tem capacidade para dar resposta às dificuldades dos cidadãos. A incapacidade do Estado em dar resposta aos cidadãos é evidente quando se fala de segurança e de Justiça. O aumento de crimes violentos, geralmente associados a assaltos não tem uma resposta eficaz por parte do Estado; a Justiça portuguesa, não obstante o trabalho meritório de muitos agentes de justiça, continua a ser o calcanhar de Aquiles de um Estado que, consequência da inépcia da classe política e dirigente, já coxeia. É sobejamente conhecida a dificuldade que o Governo tem em gerir um Estado que consome vorazmente recursos, mas cujos resultados apresentados são prat

PCP e FARC

Numa altura em que o mundo manifesta o seu contentamento com a libertação de Ingrid Betancourt e de outros prisioneiros das FARC, o Partido Comunista decidiu não acompanhar esse momento de regozijo. O PCP não condena a força de guerrilha colombiana, o que de facto, não é propriamente uma surpresa. O PCP não tem sido conhecido pelas suas condenações a inúmeras injustiças cometidas um pouco por todo o mundo – a infâmia chinesa relativamente ao Tibete é apenas um exemplo. Na verdade, o PCP insurge-se contra a política externa norte-americana secundada, genericamente, pela União Europeia. A última festa do Avante - a famigerada festa do partido - contou com o braço político das FARC, e corre a notícia de que este ano, a situação repetir-se-á. Não interessa que a guerrilha colombiana leve a cabo uma luta terrorista, nem tão pouco interessará saber a forma como as FARC se financiam. É claro que a libertação dos reféns, em particular, de Ingrid Betancourt passa ao lado de um partido cego, an

A entrevista do primeiro-ministro

A entrevista do primeiro-ministro não lhe correu mal. As perguntas colocadas não terão sido as mais incómodas, e não se podia esperar outra coisa que não fosse a acomodação aos interesses do primeiro-ministro, ou não fosse esta uma entrevista da RTP. De um modo geral, a entrevista serviu para o primeiro-ministro anunciar novas medidas para aliviar o peso do aumento das taxas de juro. As medidas são aparentemente bem-vindas, mas resta saber de que forma é que as mesmas vão ser aplicadas e qual o real impacto nas contas públicas. Há, contudo, duas críticas a fazer: uma que se prende com o desprezo que o actual Executivo tem manifestado pela classe média que tem sido a que tem pago a crise e que tem sofrido com o aumento das taxas de juro e do preço dos combustíveis – uma classe que tem vindo a empobrecer a olhos vistos. Um péssimo presságio para o futuro do país. Por outro lado, a falta de vontade política no sentido de dinamizar e flexibilizar o mercado de arrendamento é um

Libertação de Ingrid Betancourt

A libertação de Ingrid Betancourt, refém há mais de seis anos pelas FARC, é indubitavelmente uma surpresa muito agradável. O Presidente colombiano está de parabéns não só por ter conseguido libertar Ingrid e outros reféns, mas também porque a operação decorreu sem derramamento de sangue. Esta libertação representa igualmente uma forte machadada para as FARC que perdem assim a refém mais importante. Apesar da adopção de métodos terroristas das FARC, a verdade é que ainda há quem considere que este tipo de organização procura legitimamente chegar ao poder, mesmo que o faça contra qualquer principio democrático e que recorra ao tráfico de armas e drogas para financiar a sua causa. O sonho romantizado da luta da guerrilha, não passa de um pesadelo para quem, como Ingrid Betancourt, não se coibia de falar verdade e nunca abdicou de denunciar a corrupção e outros crimes. Enfim, apesar da cegueira de alguns, a libertação de Betancourt é uma excelente notícia para uma mulher que pagou a factur

Afinal, não estamos tão mal como parece

Numa altura em que o país atravessa um período de acentuadas dificuldades, a Inspecção-geral de Finanças (IGF) detectou irregularidades com os gastos do Estado, designadamente despesas com pessoal, no valor de 43,5 milhões de euros – mais 61 por cento do que verificado no ano passado. Talvez este seja um sinal claro de que o país não está tão mal como se apregoa e que os portugueses caem invariavelmente em exacerbamentos de toda a espécie. Ora, se o Estado se dá ao luxo de conceder abonos e suplementos remuneratórios – de forma irregular, é certo – é porque ainda não atingimos o fundo. Por outro lado, também foi notícia, esta semana, que o Estado Português decidiu perdoar a dívida a Moçambique, sendo que a São Tomé e Príncipe a dívida também será perdoada. Dir-me-ão que se trata de uma contrapartida fundamentada por eventuais negócios a fazer nestes países; a verdade, porém, é que são decisões que carecem de uma explicação cabal dos responsáveis governativos portugueses. Af

Agora é a vez da Polónia

Depois do “não” irlandês, surge agora o Presidente polaco a afirmar que o seu país não vai ratificar o Tratado de Lisboa. Se assim for, o Tratado está, de facto, moribundo. A recusa do povo irlandês em aceitar o Tratado de Lisboa é, por si só, um problema cuja resolução não é evidente, nem pode passar pela ostracização da Irlanda. Ora, se a Polónia não ratificar o Tratado por não acreditar na viabilidade do mesmo, talvez esteja na altura dos líderes europeus envidarem esforços no sentido de entender o porquê de mais este fracasso, procurando caminhos alternativos aos que têm sido preconizados até agora. Com efeito, a construção europeia não pode continuar a ser feita à revelia dos cidadãos. Este é, porventura, o maior óbice da UE. Infelizmente, os líderes europeus e os tecnocratas de Bruxelas acreditam piamente que a UE tal como está tem futuro, embora seja evidente que não tem. A incapacidade de se retirar lições da recusa irlandesa ao Tratado é só mais um sinal da cegueir

Irão nuclear

A existência de um Irão nuclear é considerada, por Israel, como sendo absolutamente inaceitável. Nesse sentido, surgem cada vez mais indícios da possibilidade de Israel poder adoptar uma postura mais musculada – leia-se militar – no sentido de evitar que o Irão venha a possuir armamento nuclear. Assim, inúmeros especialistas têm vindo a avançar a ideia de que o Estado israelita poderá desencadear uma acção militar dentro em breve. O ex-embaixador americano na ONU, John Bolton, afirma que o ataque poderá vir no seguimento de uma vitória de Barack Obama, durante o período entre a eleição e a tomada de posse. É certo que Bolton afirma que só uma vitória de John McCain poderá contrariar este cenário. Este ponto de vista poderá ser tendencioso, mas acaba por ser, em parte, corroborado por vários especialistas. Além disso, as autoridades militares israelitas têm feito reiteradas demonstrações de força. O Estado de Israel optará por uma acção militar unilateral se a situação se mantiver, ou