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A mostrar mensagens de maio, 2018

Eutanásia: um assunto adiado

A votação foi desfavorável aos quatro projectos de lei com vista à despenalização da morte assistida. A discussão entre os deputados foi feita com elevação e com respeito pelas posições adoptadas por cada um. De resto, o assunto não merecia outra coisa, desde logo por se tratar de um assunto particularmente sensível. No entanto e apesar do resultado, parece-me que esta questão voltará a ser discutida, provavelmente numa próxima legislatura. De um modo geral e independentemente dos resultados, a discussão teve outra virtude: a de perceber o quão alguns partidos estão agarrados a dogmas e como esses dogmas se sobrepõem à vontade e à liberdade de escolha de cada um. Mesmo que esses partidos tenham optado por vir a terreiro apresentar uma linha de argumentação que fugia à questão das escolhas e da liberdade de cada um, a verdade, desta feita, não se escondeu. A ver vamos como é que, numa próxima ocasião, esses partidos, designadamente o PCP, descalçará a pesada bota do dogma.

O congresso das intenções

António Costa foi indubitavelmente a estrela do Congresso do Partido Socialista que se realizou no passado fim-de-semana. Depois da subida de tom das críticas, facto que também se verifica no seio do seu próprio Governo com ministros a assinarem manifestos contra o Governo. Na verdade a contestação medra a cada dia de passa. De resto fica a ideia de que o ministro das Finanças têm o controlo absoluto do Governo e que os ministros nada podem fazer quanto à degradação dos serviços, como se tem verificado na Saúde, na Educação, no Ensino Superior, etc. Costa precisava deste congresso para destilar intenções, mas sobretudo para relembrar que é ele o primeiro-ministro, apesar dos sinais em sentido contrário. No congresso das intenções, Costa quis sobretudo fazer esquecer o poder que o seu ministro das Finanças tem; quis fazer esquecer um país onde as doentes oncológicas não fazem exames atempadamente, onde as crianças são tratadas nos corredores junto a caixotes do lixo, onde algumas

Querem saber mais sobre dogmatismo? Perguntem ao PCP... e a Cavaco Silva

Não se trata tanto de se pugnar por uma posição ou por outra no que diz respeito à questão da eutanásia, menos da substância e sobretudo da forma. Numa questão de escassos dias Partido Comunista e Cavaco Silva vieram manifestar o seu repúdio por qualquer tentativa de legalizar a morte medicamente assistida a pedido do doente. Ambos fizeram-no com acentuado respeito pelo dogmatismo que domina as suas vidas e no caso do PCP fica notória a ideia de que todos devem votar contra, deixando de lado a possibilidade de existir alguma liberdade de voto. Assim todos votarão em consonância com as ordens da hierarquia, numa espécie de lembrete de que o colectivo amiúde anula qualquer vontade individual. Na comunicação social pouco ou nada se falou de liberdade de voto, talvez porque liberdade de voto e PCP simplesmente não combinam. O PCP acusa ainda as propostas de constituírem um “retrocesso civilizacional”, mas atirado pelo PCP torna-se dogmático – única verdade sem admissão de crítica, a

Brincar às lideranças mundiais II

Para aqueles que acreditaram que Donald Trump poderia de facto ser um líder mundial e contribuir positivamente para a resolução do problema norte-coreano, a desilusão chegou em força nos últimos dias. Ora, Trump, depois de mais exercícios de puerilidade, declarou finalmente não estar presente na cimeira com a Coreia do Norte, afirmando “não ser apropriado, neste momento”. Horas depois o Pentágono reforçou o seu apoio ao Presidente e declarou estar pronto para atacar a Coreia do Norte esta noite… “já esta noite”. Por conseguinte, aqueles que acreditaram que a os cowboys americanos estavam mais calmos, tiveram nova desilusão. Entretanto, a Coreia do Norte demoliu campo de testes nucleares. Os cowboys, esses, liderados por um Presidente inepto e pueril, insistem no campo da confrontação, sem oferecerem razões que justifiquem essa estratégia, sem razões para além de andarem a brincar às lideranças mundiais. Se provas fossem necessárias com o intuito de demonstrar que esta Admi

Brincar às lideranças mundiais

O vice-Presidente americano, Mike Pence, alertou o líder norte-coreano, Kim Jong-un para não brincar com Donald Trump, designadamente se a famigerada reunião entre o líder americano e norte-coreano sempre se realizar em Singapura. Mais concretamente Pence afirmou que “seria um grande erro Kim Jong-un pensar que pode brincar com Donald Trump”. Tudo isto faria alguma espécie de sentido se Trump fosse dado a coisas sérias e não se comportasse como uma criança empenhada em “lixar o outro puto” - Barack Obama. Só assim se explica que se tenha deitado fora parte da lei Dodd-Frank aprovada no rescaldo da crise do sector financeiro em 2008, com o cunho, claro está, do Presidente da altura Barack Obama. Só assim se explica mais uma machadada na pouca regulação e supervisão do sector financeiro. Trump brinca às lideranças mundiais, cheio de si próprio, continua a considerar necessário hostilizar aquele líder norte-coreano difícil de definir. Depois de “fogo e fúria” e outras ameaças, dep

António Arnaut

António Arnaut, fundador do Partido Socialista, faleceu ontem. Todas as homenagens são justas. Aquele que ficou conhecido por pai do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que manifestava não apreciar o epíteto foi sobretudo um humanista. Na verdade já se sente a falta de quem apregoou o humanismo e o sentido de justiça. Arnaut não apreciava o epíteto, mas a verdade é que lhe devemos muito. O SNS anda pelas ruas da amargura e a melhor homenagem que se pode prestar ao fundador do Partido Socialista é lutar para que o SNS saía deste caminho deplorável que tem vindo a percorrer, sobretudo na última década, com a degradação dos serviços e com o frequente desrespeito pelos profissionais de saúde. António Arnaut não apreciava que o considerassem pai do SNS e é bem verdade que todos somos responsáveis pelo estado da Saúde pública em Portugal; todos devemos estar empenhados em lembrar aos de hoje que vergar-se perante as instituições europeias já não é opção e culpar os de ontem pelo estado

Um país monotemático

Há perto de uma semana que a comunicação social entretém o país apenas com recurso a um tema – uma espécie de novela com um presidente de um clube, depois dos jogadores desse clube terem sido alvo de agressões no seu centro de estágio. Há perto de uma semana que todos os outros assuntos foram relegados para a mais absoluta irrelevância: Palestina e Israel, Coreia do Norte, etc. Mesmo no que diz respeito à vida interna, o país está em suspenso até segunda-feira, dia subsequente à realização de uma final de futebol. A classe política essa não se afasta totalmente do futebol porque sabe a importância que aquilo que deveria ser um mero entretenimento tem para a vida de muitos cidadãos. Nesse precisa medida, a classe política não se imiscui de cair na tentação de comentar os assuntos futebolísticos. De resto, o país está também em suspenso na medida em que foi preciso chegar até domingo – dia do tal jogo – para se perceber se Marcelo Rebelo de Sousa iria ou não comparecer à tão ansi

Política e futebol

Rio Rio, recém Presidente do PSD e ainda e eternamente à procura do seu lugar, aconselha os políticos a ficarem longe do futebol, seguindo o seu exemplo, aparentemente. Rio parece querer criticar quem se aproveita politicamente dos êxitos no mundo do futebol. Fica-se no entanto sem perceber a correlação entre esse aproveitamento e a entrada de meia centena de criminosos na Academia do Sporting. Talvez fosse mais certeiro falar na responsabilidade dos dirigentes desportivos e dos políticos que dão cobertura a um mundo à margem da lei. Também não se entende se era suposto os políticos ficarem agora no silêncio - um silêncio que seria forçosamente comprometedor e inaceitável tendo em consideração a gravidade dos factos. É evidente que todo este show de Rio prende-se com a necessidade de lembrar a sua existência, recordando também a sua própria conduta em relação ao Futebol Clube do Porto. Com efeito, Rio afastou-se, e bem, do futebol tantas vezes conspurcado pela corrupção e pelo cri

A fundação para uns, a catástrofe para outros

Ontem uns celebraram a tão ansiada fundação do Estado de Israel, enquanto outros lembram 70 anos de catástrofe (Nakba). Para agravar, Donald Trump aproveitou a ocasião para inaugurar a tão prometida embaixada americana em Israel, incendiando uma região a arder há setenta anos.  Israel aproveitou a ocasião para quebrar aqueles que não aceitam as imposições do Estado hebraico. Perto de sessenta palestinianos já perderam a vida. As imagens de dezenas de mortos palestinianos, o isolamento daqueles que preconizam Jerusalém como capital do Estado israelita e a violência das armas israelitas contra as pedras e paus palestinianos dão força precisamente à causa palestiniana. O mundo olha para o povo palestiniano como vítima da chacina israelita. Ficamos por saber se Netanyahu e Trump percebem o quão contra-producente é a sua actuação. Para o mundo fica a ideia da catástrofe (Nakba) e não da celebração pelos setenta anos do Estado hebraico.

Deitar gasolina para cima do incêndio

Donald Trump, Presidente dos EUA, alheio às consequências dos seus actos, ou nas tintas para as consequências dos seus actos, assistiu, à distância é certo, à abertura da embaixada dos EUA em Jerusalém, contra tudo e contra todos, com o natural beneplácito israelita. Ivanka Trump representou o pai. Por muito que se tenha alertado para as consequências de deitar mais gasolina numa região a arder há 70 anos, Trump insistiu. Perto de 60 palestinianos já morreram em apenas um dia. Por outro lado grupos terroristas apelam a uma resposta violenta. Do ponto vista diplomático, vários países decidiram não se associar a esta decisão, Portugal incluído. E neste particular Portugal posicionou-se do lado certo. Na verdade, Trump está-se nas tintas para as consequências dos seus actos. Por um lado fortaleceu, julga ele, a posição israelita; por outro o que está a arder mantém-se longe de si e do seu ego. No entanto Trump sabe bem o significado político que a abertura da embaixada dos EUA em

Um Presidente que não sabe quando parar

As comparações, como se sabe, resultam amiúde num desastre. Aparentemente não será essa a opinião do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa que, ébrio daquele espírito de excessos, comparou o trabalho dos irmãos Sobral àquele produzido pelos diplomatas. Segundo o Presidente dos afectos os irmãos Sobral são “embaixadores mais qualificados do que a generalidade da nossa diplomacia. Em primeiro lugar, a comparação é disparatada – comparar quem produziu uma canção e venceu um festival tem naturalmente o seu mérito, mas não a mesma natureza do que o trabalho dos diplomatas. Em segundo lugar, qual a necessidade de ofender quem representa o país fora do país, e fora do âmbito da composição musical e da vitória de um festival cuja projecção internacional nem será assim tão significativa? Vale tudo para conquistar votos e simpatias? Aparentemente vale. Em terceiro lugar, que elogios merecerão as cantoras nacionais que conseguiram um último lugar no referido festival? Existe também a possibi

A fome de guerra

Donald Trump cumpriu mais uma das suas promessas bacocas, mas perigosa: sair do acordo firmado entre os cinco membros do conselho de segurança (e com a Alemanha) e o Irão com o objectivo de acabar com o programa nuclear iraniano em troca do fim das sanções. As vozes de vários líderes mundiais, designadamente de países próximos dos EUA caíram, obviamente, em saco roto.  De resto, o facto do Irão, de acordo com o parecer de especialistas da agência nuclear, estar a cumprir o acordo e a colocar um ponto final no seu programa nuclear vale exactamente zero para o néscio Presidente americano. Muitos ainda colocam a questão: porquê? Porquê ir contra tudo e contra todos? Porquê ir contra as evidências? Porquê ter como únicos aliados Israel e a Arábia Saudita? A resposta é evidente: a fome de guerra; a necessidade que a indústria do armamento - forte aliada de Trump - tem de uma guerra a sério.  Por outro lado a Coreia do Norte com a aproximação histórica à Coreia do Sul e com o subseque

No reino das desigualdades

... e no reino da pobreza. Vem o título a propósito dos números do INE sobre a pobreza e sobre as desigualdades. Os números são arrepiantes: 24 % da população está em risco de pobreza. Mais de 700 mil pessoas vivem em pobreza severa. As desigualdades, embora tenham diminuído ligeiramente, são castradoras de qualquer sociedade que anseie ser saudável. Isto por si só deveria ser razão suficiente para fundamentar a natureza da própria política, pejada de escândalos de corrupção. Infelizmente muitas vezes não é assim. No reino da pobreza e das desigualdades finge-se que está tudo bem, sobretudo depois de Passos Coelho, o homem que desconhecia ser necessário pagar Segurança Social e que possuía uma predilecção pela troika, ter deixado o reinado. É indiscutível que o actual Executivo, coadjuvado pelos partidos à sua esquerda, tem procurado mitigar os elevados níveis de pobreza. Mas é tudo demasiado lento e demasiado incipiente. De resto, com as contingências externas e por vezes sem a n

Quando as esquerdas se digladiam

É mais fácil encontrar entendimentos à direita do que à esquerda, facto que torna a "geringonça" ainda mais improvável. Mas ela existe, contando com divergências, algumas delas pueris, como é o caso do PCP reclamar para si a autoria da proposta das 35 horas. De um modo singelo e pueril, Rita Rato, deputada do PCP, fez questão de afirmar que a autoria da proposta das 35 horas semanais para o sector privado é do Partido Comunista. PAN e Bloco de Esquerda vieram depois. Com estas afirmações próprias de crianças de 6 anos o PCP tenta fazer um brilharete junto do seu eleitorado: a defesa dos trabalhadores, reclamando para si esse exclusivo. Compreende-se que os partidos mais à esquerda do PS procurem manter as suas respectivas identidades para não serem esquecidos nos próximos boletins de voto.  Todavia, não vale propriamente tudo e o discurso próprio de uma criança de 6 anos não eleva, naturalmente, o debate político. É também evidente que quando as esquerdas se diglad

Sócrates? Agora? Porquê?

O Partido Socialista, a parte mais relevante pelo menos, decidiu virar-se contra José Sócrates, depois de anos de silêncio confrangedor. O Presidente do partido, Carlos César, depois de ter sido visado a propósito de gastos excessivos mas legais ressalva, entre viagens reais e outras nem tanto, abriu as hostilidades, proferindo palavras duras contra José Sócrates e contra o ex-ministro Manuel Pinho. Mais tarde foi a vez de António Costa escolher abordar de forma mais directa e indiscutivelmente negativa o assunto. Creio que terá sido esta a gota de água que terá resultado no afastamento definitivo de Sócrates do PS. Com efeito, foram anos marcados pelo tal silêncio confrangedor disfarçado numa vontade inexpugnável de respeitar a separação de poderes, não misturando o que pertence à política com o que pertence à justiça. Dir-se-á que terão sido as revelações sobre as obscenidades praticadas pelo ex-ministro de Sócrates, Manuel Pinho, a desencadearem esta onda de protestos no se

Demagogia nos programas da manhã

Os programas de televisão da manhã são palcos onde prolifera livremente a demagogia. Sem qualidade, refreando-se ao mínimo de substância, os ditos programas convidam aqueles que em palcos onde impera a seriedade não têm lugar. Os Camilos e os Marinhos Pintos deste mundo atacam os trabalhadores e os partidos políticos, recorrendo a uma argumentação fácil de desmontar, se existisse contraditório, que não existe. Deste modo e atingindo um público mais envelhecido, a demagogia vai fazendo o seu caminho - um caminho fácil porque sem o tão necessário contraditório. Assim, ataca-se os partidos políticos, apostando em dogmas que postulam a inexistência de gente séria nesses partidos, apresentados como sorvedouros de dinheiro, não se vislumbrando no entanto propostas no sentido de combater os excessos, mantendo a democracia ou até consolidando-a. Nem tão-pouco informam acerca de democracias em que os partidos e os políticos são reféns do dinheiro que os promove, ao ponto de enfraquecer ou at

Um par de cornos

Quando pensávamos que aqueles dois palitos - ou cornos - feitos por Manuel Pinho havia sido um deslize de mau-gosto, afinal era um gesto dirigido a todos os portugueses. É uma nova forma de interpretar um gesto feito por alguém que era simultaneamente ministro e avençado do Banco Espírito Santo. Recebeu quase 800 mil euros de Ricardo Salgado enquanto ministro da Economia, em contexto de relações promiscuas com a EDP e na mudança feita pelo próprio das regras dos custos de manutenção do equilíbrio contratual. O silêncio impera, como de resto é habitual nestes casos. Mas na verdade de que adiantou a Manuel Pinho distorcer a prestação de serviço público no desempenho das funções de ministro? Ficará na memória dos portugueses quer pelo gesto dos ditos cornos e ficará na história como o ministro que recebeu perto de 800 mil euros enquanto ministro da Economia das mãos de Ricardo Salgado. Orgulho.