O simplismo da frase em epígrafe não lhe retira qualquer força - há muita gente zangada e há quem, naturalmente, tenha a capacidade de se aproveitar disso mesmo.
Há muita gente zangada e com razão: o neoliberalismo vigente criou e agravou as iniquidades, a UE veio ajudar à festa com políticos pró-garrotes e com pouco conhecimento do seu semelhante e agora potências como a China dominam o mundo e com isso levam recursos que antigamente se concentravam apenas nos EUA e na Europa. Os políticos sem soluções e rendidos ao neoliberalismo vigente, incapazes de explicar que os anos de ouro da Europa e EUA já passaram, são o alvo de tanta gente zangada. A isto acrescente-se o ódio à mínima diferença e o cenário fica completo. Foi assim nos EUA com a eleição de Donald Trump, foi assim no Brasil com Bolsonaro, mas também é assim na Europa, com Hungria, Polónia, em Itália e começa a ser em Espanha.
Em França tudo concentra-se ainda numa revolta popular, sem líderes, mas particularmente forte. Mas é apenas uma questão de tempo. Nenhum movimento sobrevive sem lideranças ou desprovido de quem se apodere e controle esse movimento. No caso francês julgo haver poucas dúvidas sobre quem cavalgará nesse descontentamento: a extrema-direita. Já por aqui se escreveu, aquando da eleição de Emmanuel Macron, que o seu falhanço (tido como certo) abriria as portas do poder à extrema-direita.
Há muita gente zangada e por vezes as razões que subjazem a esse estado de espírito não são claras ou não são convenientemente explicadas, mas que são o rastilho para que o ódio se propague e uma ameaça à democracia não restam dúvidas. Pena que os políticos ditos democratas sempre menosprezaram ou até desprezaram essas ameaças. Resta saber se já não será tarde demais. Temo que sim, mesmo com promessas de aumentos do salário mínimo e afins.
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