Depois da trapalhada em torno das alterações à Lei do Financiamento dos Partidos Políticos, os ditos partidos envolvidos na polémica decidiram fazer um comunicado conjunto onde nada é verdadeiramente esclarecido, optando por passar o problema para o Presidente da República. Porém, há uma espécie de argumento que é invocado: o consenso alargado em torno do assunto.
Ora, o consenso alargado vale de muito pouco quando tudo é decidido na penumbra, longe dos cidadãos, às escondidas. Paralelamente, um consenso alargado, por si só, valida exactamente o quê? Melhora a história em que aspecto? E se existisse um consenso no Parlamento, imaginemos por absurdo, sobre o regresso da pena de morte, isso justificaria esse incomensurável retrocesso civilizacional?
Existiam problemas com a anterior legislação sobre o financiamento dos partidos políticos, essa parece ser uma evidência. O que não quer dizer, contudo, que estas alterações contribuam para melhorar, sobretudo cozinhadas na penumbra, muito longe de qualquer debate público. E é isso que poucos deputados parece perceberem. Assim como aparentemente terão dificuldades em compreender que são medidas como estas, engendradas à revelia dos cidadãos, às escondidas - repito - que contribuem inexoravelmente para o afastamento dos cidadãos das instituições democráticas - uma machadada na democracia - a antítese do que deveria ser a missão dos representantes políticos eleitos.
Por conseguinte, consensos alargados, sobretudo no actual contexto, de nada valem. Servem apenas para reforçar a perigosa ideia de que são todos iguais.
Comentários
O facto de ter sido tudo cozinhado na penumbra demonstra má consciência dos autores