Independentemente
de como será o futuro próximo da Catalunha, a vontade de parte dos
catalães - resta quantificá-la - não esmorecerá, bem pelo
contrário. Paralelamente, a questão da Catalunha pode contribuir
para o reacendimento da luz independentista em vários países
europeus, com maior ou menor intensidade. E apesar do processo
falhar, aparentemente.
Não
levará muito tempo até se começar a trazer à colação a vontade
dos povos, colocando-se em causa o próprio conceito de Estado-nação.
E quem pensa que o afastamento de Puigdemont ou eventualmente a sua
prisão e o esmagamento de qualquer tendência independentista
resolve o assunto, estará muito enganado. Rajoy engana-se a si
próprio e aos espanhóis quando julga que é através da
intransigência e da recusa de qualquer espécie de diálogo que
colocará um ponto final na questão da Catalunha independente.
Depois de cortar as aspirações de maior autonomia - que
provavelmente resolveria o assunto - escolhe agora desferir golpes
derradeiros nas intenções independentistas, com repressão e
prisões.
Por
outro lado, a UE que finge não sair beliscada com o Brexit, que
finge que o pior da crise, erradamente atribuída a alguns
Estados-membros, bodes expiatórios de excelência, já passou e que
finge ainda alguma espécie de coesão, não sabe o que fazer com o
levantamento de questões independentistas. Entre dentes vai-se
manifestando próxima da Espanha e oficialmente procura não se
imiscuir. Nem uma posição, nem a outra contribuem para qualquer
solução. A Europa também neste particular comporta-se como uma
barata tonta que não sabe muito bem para onde ir. Sente que uma
Catalunha independente e eventualmente outras regiões independentes
vão contra o espírito europeu de união e coesão, mas não sabe
como agir, desde logo porque essa união e coesão são meras ilusões
que alimentam uma elite que não quer perceber o que está errado com
a UE. Em suma, trata-se de uma Europa que esqueceu há muito da
necessidade de ouvir os cidadãos.
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