Depois
de duas entrevistas, uma do médico Gentil Martins e outra do
candidato do PSD/CDS à Câmara de Loures André Ventura, a liberdade
de expressão tem sido profusamente evocada. O primeiro teceu
considerações negativas sobre a homossexualidade, para além de
visar um jogador de futebol pela forma como foi pai, e o outro
preferiu seguir a via do racismo puro e duro. Em ambos os casos
choveram críticas. Sobretudo no primeiro caso foram muitos que
ensaiaram uma tentativa de defender o médico alegando que a
entrevista se enquadra no âmbito liberdade de expressão.
Paradoxalmente, acusam quem o crítica de não respeitar precisamente
essa liberdade de expressão. Ora, liberdade é um conceito que só
faz sentido se for exercida com responsabilidade, caso contrário eu
poderia fazer e dizer o que me desse na real gana e alegar a minha
liberdade para o fazer.
Paralelamente,
não será exactamente o cerceamento da liberdade de se dizer as
maiores asneiras o que se procura, mas antes chamar à
responsabilidade quem profere palavras que promovem o ódio, chamando
à colação as diferenças e partindo delas para dividir as pessoas,
entre as normais e as anormais, e por muito primário que seja este
raciocínio acaba por ser este o resultado das palavras do médico e
do candidato à Câmara de Loures. Já para não falar das
generalizações abusivas de que um e outro se socorrem e no caso do
médico do carácter pretensamente científico daquilo que são meras
ideias pré-concebidas.
Não
há nada de científico nas palavras do médico, muito menos
socorrendo-se de uma exposição de argumentos simplista, nem tão
pouco há alguma coisa de político (como factor de união) nas
palavras do candidato do PSD/CDS, apenas preconceitos e populismo.
A
liberdade de expressão não pode ser olhada como carta branca para
se dizer tudo e mais alguma coisa sem se esperar consequências e
creio que é isso que se pede. A promoção do ódio e da
discriminação devem ter consequências e quem faz essa promoção
não pode almejar fazê-la descurando o factor responsabilidade,
assim como aqueles que os sustentam politicamente. Seria bem mais
interessante fazer-se a discussão sobre a liberdade de expressão
estabelecendo a importância da responsabilidade nesse exercício, ao
invés de cairmos no facilitismo de proferir impropérios ou no
silêncio mais ensurdecedor. O PSD neste particular volta a dar um
mau exemplo ao segurar o seu candidato, quando a retirada de apoio
seria o mínimo admissível. O CDS fê-lo.
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