Sob
um manto de suspeição, venceu o sim no referendo que transforma o
que restava da democracia num regime autocrata - presidencialista
como Erdogan prefere designar. Um regime presidencialista, sem
separação de poderes, onde o cargo de primeiro-ministro
simplesmente desaparece e no qual Erdogan poderá designar e
destituir os membros do Governo que ele bem entender, com a morte do
próprio parlamento. Diz-se que nem Mustafa Kemal Ataturk - pai dos
turcos - terá ido tão longe.
Recorde-se
que já depois do "golpe de Estado" de dia 15 de Julho do
ano passado, Erdogan ordenou uma multiplicidade de purgas que apenas
vieram confirmar a deriva autoritária daquele que é agora
Presidente da Turquia com poderes ilimitados. Na sequência desse
"golpe" (falhado) mais de 130 mil funcionários públicos
foram despedidos, 43 mil foram detidos (muitos pertencentes ao poder
judicial) e Erdogan ordenou ainda o encerramento de mais de 100
órgãos de comunicação social. Tudo culmina agora com um referendo
cujo resultado é fortemente contestado pelos partidos da oposição
e que dá a machadada final no pouco que restava da democracia.
Com
esta acumulação de poder deita-se por terra o legado de Ataturk,
afastando os seus guardiões (militares), como já se estava a fazer
desde o alegado golpe militar. Com esta acumulação de poder
afasta-se a Turquia ainda mais da Europa, não só com a morte da
democracia, mas também com a adopção de medidas como o
restabelecimento da pena de morte.
Estas
não são apenas más notícias para a Turquia que entra assim num
período de nacionalismo e conservadorismo que a levará ao
obscurantismo; mas são também más notícias para a Europa e para o
mundo que vêem assim um país cuja importância geo-política é
inegável, mergulhar nas trevas de onde dificilmente sairá.
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