Tal
como nos anos 20 e 30 do século passado, o falhanço da esquerda,
designadamente da esquerda não comunista, abre as portas ao
populismo e até à extrema-direita.
Tal
como no passado, o descontentamento sente-se órfão: a direita
conservadora deu lugar à direita neoliberal que contribuiu para a
agudização do capitalismo selvagem e subsequente descontentamento;
essa direita, paralelamente alia-se com facilidade a um
tecnocentrismo que ninguém compreende, mas que se percebe ser razão
de enfraquecimento das democracias. A direita neoliberal, refém do
poder económico, marchará para onde esse poder o entender, até
para o populismo ou pior, se for caso disso.
A
esquerda, por sua vez, desdobra-se no socialismo democrático que
falha por toda a Europa, demasiado perto da direita neoliberal,
demasiado distante das suas origens próximas da social-democracia.
Existem poucas excepções: o Partido Socialista de António Costa é
uma delas. Até ver.
As
esquerdas mais à esquerda do socialismo democrático ou não
conseguem arrancar simpatias ou espalham-se clamorosamente como foi o
caso do Syrisa grego.
Estes
falhanços, sobretudo o falhanço da esquerda, sendo que a direita
neoliberal, a direita dos interesses, se vir os seus interesses
beliscados apoiará o populista ou até a extrema-direita, determinam
a abertura de um espaço à quase irracionalidade - quando tudo deixa
de fazer muito sentido - o mais perigoso dos mundos como nos avisava
Nietzsche.
Sobra
uma excepção, como já anteriormente se disse: o Governo de Costa
apoiado pelos partidos à sua esquerda. Mas mesmo essa excepção vai
tendo viabilidade graças a uma UE que percebe que existem problemas
mais graves do que o défice português, como o caso do Brexit, e,
consequentemente, aligeirou o discurso. Para já. O país e, por
inerência a solução política portuguesa, continuam reféns dos
ditames europeus. Por enquanto vamos tendo benefícios fruto das
circunstâncias, para já. Porém, como se tem visto nos últimos
meses, tudo muda a um ritmo alucinante. Tudo menos a esquerda,
sobretudo a esquerda dita socialista democrática que se refugia num
centrão que talvez já nem exista pela simples razão que é o
descontentamento que toma o seu lugar.
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