Apesar
da incerteza em Itália, com a demissão do primeiro-ministro Matteo
Renzi, procura-se sossegar os ânimos e trazer alguma ilusão de
acalmia a uma Europa instável, afundada primeiro numa austeridade em
doses cavalares, depois na crise dos refugiados e agora enfrentando o
perigo da ascensão do populismo (um perigo que não é exactamente
de agora, mas que se tornou mais visível depois do Brexit e da
vitória de Trump).
Espera-se
o que o Presidente italiano vai fazer, talvez procurando convencer o
primeiro-ministro demissionário a manter-se no cargo, numa espécie
de gestão até 2018 - período de novas eleições, para já importa
ficar até passar o Orçamento de Estado. Resta saber qual a posição
dos partidos da oposição, designadamente do partido de Berlosconi,
o movimento de Beppe Grillo ou a Liga Norte, todos pouco apologistas
dessa possibilidade e todos defensores de um referendo sobre a
permanência na Zona Euro ou até na UE.
Muitos
acusam agora Matteo Renzi, primeiro-ministro não eleito, de não ter
aprendido com o erro de Cameron e de ter sido arrogante. Ora, existe
um fundo de verdade nessas acusações, porém, não podemos ignorar
as dificuldades que os países cada vez menos soberanos e respectivos
governos enfrentam na prossecução dos seus objectivos. Tem-se
tornado cada vez mais difícil encontrar instrumentos políticos
autónomos que respondam às crescentes dificuldades dos cidadãos -
a política económica tem de passar pelo crivo de Bruxelas e está,
naturalmente, vinculada aos ditames do neoliberalismo vigente.
Esvaziados de recursos, sem instrumentos que lhes permitam
desenvolver políticas de bem-estar, restam duas situações: ou o
vazio que será ocupado pelo discurso populista anti-política ou se
procura encontrar instrumentos de recurso que caem amiúde na mais
simples chantagem, como foi o caso de Renzi e antes dele de Cameron.
Ambas são receitas para o fracasso ou, na primeira situação,
formas de enfraquecimento da própria democracia. Enquanto
insistir-se em ignorar o que subjaz largamente ao falhanço da
política, com a primazia da economia neoliberal em detrimento ética
a que política se subjuga, continuaremos à procura de soluções
onde elas não existem, com Matteo Renzi acabou por fazer.
O problema italiano vai muito para além da distribuição de poderes
ou da própria governabilidade; o problema italiano é o mesmo de
outras democracias – um povo pouco ou nada soberano e políticos
que agem sem norte.
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