Importa
deixar claro que independentemente da decisão do povo britânico,
deve imperar o respeito pelo caminho escolhido. Dito isto, façamos o
seguinte exercício: pensar sobre as razões que justificam a saída,
ou que, pelo menos, fundamentam a posição daqueles que querem ver a
UE pelas costas.
As
questões que se prendem com dinheiro britânico que entra no
orçamento europeu não são suficientemente fortes, embora
manifestamente mistificadas. A burocracia das instituições
europeias não devem chocar os britânicos, tanto que justifique a
saída. A preponderância da Alemanha nas decisões europeias já,
por outro lado, poderá contribuir para um mal-estar que se estende a
outros Estados-membros. Mas será a imigração a pesar fortemente na
decisão do "brexit", mesmo sabendo que a saída da UE está
longe de significar um eterno fechar de fronteiras. A livre
circulação de pessoas, os imigrantes e os refugiados representam
argumentos decisivos na hora de escolher a saída ou a permanência.
Esta é a questão central, uma questão que, uma vez mais, se
estende a vários Estados-membros da UE.
É
claro que a imigração e a UE são os bodes expiatórios por
excelência. Deste modo justifica-se o desemprego, a precariedade e
aquele constante retrocesso que nos invadiu a existência. É claro
que a imigração e a UE dão muito jeito a quem defende políticas
neoliberais, sobretudo para explicar o resultado dessas políticas. É
isto que hoje estará em cima da mesa: cair na falsa ideia de que é
a imigração e a UE (mesmo estando o Reino Unido a beneficiar de um
regime de excepção) que subjazem à miséria que se está a tornar
gradualmente transversal, libertando assim os políticos neoliberais
da responsabilidade por essa miséria. Ou, pelo contrário,
perceber que o Reino Unido que sempre esteve apenas com uma perna na
UE, nada ganha em sair e que os seus problemas são fruto do
capitalismo selvagem apregoado por muitos políticos, em larga medida
precursores de Margaret Thatcher.
Comentários