A
ideia de que o Presidente da República desempenha funções sem
particular importância, para além de profundamente errada, pode
ajudar a explicar a elevada taxa de abstenção. É claro que outros
factores são chamados a uma potencial explicação: indolência,
desinteresse, cadernos eleitorais desactualizados, etc.
Marcelo
afirmou que associa o Presidente da República a um árbitro,
colocando de lado as suas próprias convicções. Uma ideia falaciosa
que tinha como objectivo a mera angariação de votos. Nem Marcelo
vai desempenhar as funções de Presidente da República como um
árbitro, nem colocará de lado as suas convicções. Quando for
chamado a intervir assistiremos a um Presidente que não limitará a
arbitrar, nem tão-pouco teremos um Presidente despido de convicções.
A
actual solução política encabeçada pelo Partido Socialista e
apoiada pelos restantes partidos de esquerda é, indubitavelmente,
frágil. Está presa por uma figura que continua a unir a esquerda:
Passos Coelho. Como já aqui referi, todos à esquerda são incapazes
de conceber um regresso ao poder de Pedro Passos Coelho e dos seus
acólitos. A solução de esquerda necessita também de um Presidente
que garanta estabilidade. Tenho dúvidas que Marcelo seja esse
Presidente - as convicções que disse colocar de lado desenham um
modelo de sociedade que não é aquele apregoado pela esquerda.
Finalmente,
os desafios no horizonte serão verdadeiramente difíceis para a
esquerda que governa e que apoia o governo, a começar pelas
imposições externas, designadamente aquelas avançadas pelas
instituições europeias. O Presidente terá também nesse particular
uma importância a não desprezar. Afinal de contas "assegurar o
regular funcionamento das instituições democráticas" está
repleto de ambiguidades, não vos parece? Recordo o artigo 195.º da
Constituição da República Portuguesa (Demissão do Governo), no
seu número 2: "O Presidente da República só pode demitir o
Governo quando tal se torne necessário para assegurar o regular
funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de
Estado."
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