António
Costa, contrariamente a outros primeiros-ministros, nunca terá
aquilo que é designado por estado de graça; bem pelo contrário, à
primeira hesitação, falha ou contradição será logo crucificado.
O
chamado estado de graça, por efémero que possa ser, não existe
para António Costa. A comunicação social continuará a ser, quase
sem excepção, responsável pela inexorável ausência de qualquer
coisa remotamente semelhante a um estado de graça.
A
impossibilidade de devolver a sobretaxa nos moldes desejados por PCP
e BE, deitando por terra algumas legítimas expectativas, é disso um
bom exemplo. Em entrevista ao Jornal "Público", Costa
lamenta não poder devolver a sobretaxa como ele próprio desejaria,
alegando não existir folga. Deste modo, muitos já começaram a
dedicar-se à crucificação de Costa, enquanto outros já o fazem há
mais tempo. Serve a sobretaxa de alegado exemplo de que Costa não é
sério. Esquece-se assim o passado recente de "cofres cheios"
de Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque. Entretanto são muitos os
que se dedicam a patéticos exercícios de futurologia.
Agora
inquietam-se as almas relativamente à sobretaxa, as mesmas almas que
viveram sempre em sossego com anos de mentiras por parte da dupla
Passos e Portas e que começaram com a promessa de não aumentar
impostos, enquanto insistiam na rejeição de cortes de salários e
pensões; mentiras grosseiras que culminaram com a sobretaxa (que
chegou ao zero de reposição) e com a impossibilidade de respeitar a
meta do défice. Com tudo isto, ficaram as referidas almas impávidas
e serenas. Não, António Costa não terá qualquer coisa remotamente
semelhante a um estado de graça.
Boa parte da comunicação social contribuirá para isso e só as
tropelias de Passos e Portas, incapazes de escamotear as birras e as
fitas, é que nos permitem esquecer, por alguns momentos, essa
evidência.
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