A
existência de vozes dissonantes no seio do Partido Socialista era
conhecida e podia ter sido aproveitada pela direita. Podia ter sido,
mas não foi. Cavaco Silva ao proferir um dos discursos mais
antidemocráticos de que há memória, acabou por unir aquilo que
estava potencialmente desunido. O tiro terá sido pela culatra. A
reacção imediata dos partidos de esquerda foi precisamente a união
e coesão, precisamente o contrário que Cavaco pretendia.
A
existência de um inimigo externo causa, amiúde, a união de um
grupo que encontra um forte elemento em comum e que os une: a
existência de um inimigo externo, sobretudo se este se manifestar
contra a existência do referido grupo.
Não
se percebe se terá sido inépcia, mas o facto é que a tentativa
ignóbil do Presidente da República foi contraproducente e resultou
na união interna do PS e da combinação PS/BE/PCP/PEV. E como
Francisco Louça bem referiu "ninguém quer ser o Cavaquista do
PS".
Resta
ao Presidente esperar pela moção de rejeição ao programa do
governo, desencadeada pela maioria de esquerda, e subsequente recusa
em indigitar António Costa, apostando na irresponsabilidade de
permitir a existência de um governo em gestão corrente.
Comentários