A forma encontrada pelas instituições
europeias, lideranças de Estados-membros e credores como o FMI para
lidar com a questão grega caracteriza-se por uma irresponsabilidade
que não conhece limites.
Depois de avanços (tímidos,
demasiado tímidos) e recuos (profusos, excessivamente profusos) a
intransigência europeia e do FMI ultrapassaram todos os limites.
Alexis Tsipras, depois de trucidado pelas ditas partes – ex-troika
– pediu aos gregos que se pronunciassem, através de referendo,
sobre se o país deveria ou não aceitar as imposições externas.
A resposta da UE não se fez esperar:
um redondo “não”, através da recusa em prolongar por mais uns
dias o programa, permitindo que o referendo fosse realizado no espaço
de uma semana.
A Grécia está encurralada e tudo
está a ser feito para castigar o povo grego que ousou,
democraticamente, fazer uma escolha que não coaduna com a ditadura
do pensamento único. Agora são punidos – uma punição que deve
servir de aviso para outros povos que acalentem a esperança de poder
contar com forças políticas que não aceitem a austeridade até à
morte.
O resultado deste castigo pode ser
dramático. Para além de todas as implicações de natureza
económica, financeira e geopolítica a que aqui mesmo se tem feito
alusão, as consequências serão desastrosas para a Grécia, no
plano interno. Se a escolha democrática dos gregos – o Syrisa –
falhar, abre-se a porta para novas possibilidades, quase todas elas
longe da democracia. Mas essas implicações para a Grécia são
irrelevantes para os néscios que estão à frente dos destinos da
Europa, até porque esses mesmos néscios não têm qualquer
dificuldade em apoiar pequenos déspotas, como se verifica com a
Hungria. Os néscios estão apenas preocupados com dois aspectos: os
negócios do costume e os seus egos ridículos. E com isto que se
faz, ou no caso concreto, se desfaz uma Europa.
O parlamento grego aprovou a
realização do referendo, apesar da recusa europeia. A democracia
resiste.
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