Quando
se fala na Grécia e na sua intrepidez, existe uma tendência,
sobretudo por parte de algumas lideranças europeias, para confundir
essa intrepidez com irresponsabilidade da própria Grécia.
A
linha de argumentação é simplista e recorrente: os Gregos viveram
acima das suas possibilidades, martelaram as contas, pediram
demasiado dinheiro emprestado e agora querem esquivar-se ao pagamento
dessas dívidas. Pelo caminho atribui-se invariavelmente um peso
moral à dívida como se tratasse de um favor que os credores fizeram
à Grécia - quase na linha dos bons samaritanos - e os Gregos, os
ditos irresponsáveis, não querem pagar. Pelo caminho esqueceu-se
que a dívida, quando acarreta juros não têm que se vestir de uma
pretensa moralidade, sendo antes um negócio e um negócio como todos
os outros com riscos associados.
A
culpa, insistem em dizer, é dos gregos. Pouco interessa que o
dinheiro da troika, na sua quase totalidade, nunca tenha chegado ao
povo grego, servindo antes para recapitalizar a banca e pagar juros;
pouco interessa que a referida "ajuda" mais não foi do que
um esquema para salvar a banca alemã, em condições trágicas para
os gregos. A referida banca alemã livrou-se da exposição a uma
Grécia insolvente. Missão cumprida.
Por
outro lado, insiste-se na retórica da culpabilização, deixando
cair por terra o projecto europeu quando esqueletos no armário -
leia-se dívidas, perdões de dívida e reestruturações - quase
todos os países têm, a começar pela própria Alemanha.
Tsipras,
primeiro-ministro grego, fala no sonho europeu, um sonho seguramente
não partilhado pelas lideranças políticas que ainda procuram uma
espécie de hegemonia, dominando a Europa, num misto de egoísmos
nacionais, cobardias e ideologias nefastas. O sonho de Tsipras contrasta
com os pesadelos de parte da Europa. E por falar em pesadelos, por cá
o Presidente da República alerta: "A Grécia não pode fazer o
que bem entende".
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