É compreensivelmente o assunto que
marca a actualidade, afinal de contas trata-se da primeira vez que um
ex-primeiro ministro é detido na história da democracia portuguesa.
Paralelamente ao que terá levado José
Sócrates a ser detido, existem duas situações que merecem crítica:
a forma como Sócrates terá sido detido – o aparato na sua chegada
a Lisboa e a estranha situação de se conseguir filmar essa
detenção; o timing, a simultaneidade de dois acontecimentos – a
detenção propriamente dita e as directas do PS com a consagração
da nova liderança de António Costa.
Politicamente, o PS não escapa às
consequências da detenção de uma figura ainda tão próxima do
partido e também muito próxima do novo líder. Aliás, tem esse
sido precisamente esse um dos maiores erros do Partido Socialista –
a tentativa de recuperar a imagem de Sócrates, o “culpado disto
tudo”, argumento usado reiteradamente pelo PSD e CDS que serve, de
resto, como base de toda a argumentação dos partidos que compõem a
coligação de Governo. Todavia, também se compreende a necessidade
de Costa serenar o partido, incluindo naturalmente a ala socrática.
De um modo geral, não se pode exigir
que José Sócrates seja inexoravelmente esquecido pelo seu partido,
porém o passado marcado por Sócrates também não deve ser
enaltecido. É difícil prever o impacto que esta detenção pode ter
no futuro do PS. Seja como for, todo este imbróglio não augura nada
de bom para António Costa.
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