A pobreza é amiúde vista não como o
resultado de políticas, sobretudo nos últimos anos, mas como o
resultado de escolhas individuais que degeneram posteriormente na sua
perpetuação. Deste modo, surgem opiniões que assentam nessa
premissa e que servem também para legitimar as políticas que
subjazem a essa pobreza.
Em Portugal a pobreza atinge também
quem trabalha. A privação material inviabiliza o pagamento atempado
de rendas, da luz, da água, do gás e constituiu um óbice a uma
alimentação saudável. Estima-se que perto de 40 por cento dos
portugueses vivam nesta situação.
É neste contexto que assistimos a
afirmações como aquelas, mais recentes, proferidas por Isabel
Jonet, presidente do Banco Alimentar. Segundo esta senhora, há
“profissionais da pobreza” em Portugal, numa “transmissão
intergeracional da pobreza... e pessoas que andam de mão estendida,
sem qualquer preocupação em mudar.”; paralelamente “quando se
ajuda uma família pobre deve procurar-se que essa família queira
deixar de ser pobre e não encare a assistência como forma de vida”.
A verborreia supra dispensaria
comentários. O discurso facilitista assenta em preconceitos e na
velha e gasta tentativa de culpabilização, virando umas pessoas
contra as outras. Infelizmente a senhora em questão tem
responsabilidades que mereciam uma maior contenção.
Escusado será dizer que estas
afirmações são feitas num país que conta com um número acentuado
de desempregados, outro de trabalhadores precários, num contexto de
forte desvalorização. Escusado será dizer que o maior problema do
país não é o Rendimento Social de Inserção que representa perto
de 1 por cento do Orçamento de Estado, mas antes a promiscuidade
entre poder político e poder económico, a preponderância de alguns
sectores como o sector financeiro (O BPN custou quanto? Oito mil
milhões? E o BPP? E o Banif? E o BES? Quase cinco mil milhões, com
promessas de que vai tudo ficar bem? Afinal quem é profissional?) e
a corrupção. Escusado será lembrar estas verdades onerosas porque
a senhora em questão continuará a brindar-nos com a sua já
habitual verborreia.
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